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@monteiro4852 #174

Por que você sempre acha que acabou? Eu, veja bem, eu é que deveria achar isso.

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Dor à vista

Uma tela que se embaça, diante de dores reincidentes e de falta de promessas. Não na catástrofe televisionada e amplamente falada. Dentro de nós. Numa saudade que arrefece, após um sonho do qual não é possível lembrar, mas, sim, estava lá. Esteve lá. Desde muito tempo. Depois de tanto pregar que “o amor só é bom se doer”, vem uma dor que põe tudo em xeque. Sofrimento serve mesmo para isso: para tornar vitorioso o que o provocou e conduzir ao saco dos perdedores aquele que… perdeu. Neurose pouca é bobagem. Mas uma bobagem que nem o samba da praça consegue abafar.

Depois do mais amargo dos cafés, quem consegue dormir? O playboy capaz de brigar com apenas o próprio umbigo poderá considerar-se sortudo. Depois, deve dar tempo de escorar-se numa sentença óbvia: não há nada de original ou especial nesta carcaça, mané. Todo mundo é igual: pior com dor do que sem dor. Pode ser que passe, claro. Há uma máxima/promessa já apontada como de origem árabe e que dá conta disso, com uma simplicidade dolorosa (claro que era para ser assim): “Tudo passa.”

A chegada/volta da dor é uma ótima ocasião pra avaliar o que se diz/pensa. Talvez, focar na semântica. Na dor, revemos coisas  Há quem faça promessas. Tem gente que aproveita para falar das músicas do Nirvana, explicando por que foge delas: muito sofrimento, ali, naqueles versos. É uma maneira de ver. Pode ser que não haja analgésico que dê jeito. O ápice da dor, o apogeu da dor, o esplendor da dor… Falando assim, parece até uma emenda para dar sequência aos “Provérbios do inferno”.

Se (um)a dor pode mesmo ser o combustível para aumentar um poema? Ou um clássico qualquer. Por que não? Metade da humanidade parece estar cansada do amor, que já foi apontado como o grande combustível da música/indústria pop. Outra: dor tem preço? Será que o cabra sofredor de agora provocou coisa parecida, isto é, muita dor, em outrem e, depois, precisa acertar as contas, encarar o preço a ser pago? Quando a dor vem em prestações, desde muito tempo, é porque o cara deve muito?

Há quem prefira pagar à vista para, quem sabe, sugerir um desconto. Ou então é só por não gostar mesmo de parcelamentos. Uma coisa é certa, apesar de não garantir nada: tem dor que é melhor não sentir. Assim como há contas que o sujeito — de uma maneira ou de outra — precisa acertar.

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Rainha do pop… Zzz…

O que torna uma pessoa merecedora disso ou daquilo? A gente merece o show de Madonna, aqui no Rio? A pergunta não quer dizer que o escriba a considere grande coisa. E tampouco a última frase serve para colocá-la num lixo liliputiano qualquer. A questão é: aqui está a artista, em pauta/alta. Nos últimos dias, foi esculhambada por um velhaco cineasta lacrador, celebrada por uma colunista bonitona e de veiculozão, passou pelas confissões de uma crítica gastronômica que lamentava que seus amigos chefs não lhe tivessem dado qualquer informação relevante… Madonna estava em todos lugares, nos últimos dias. Até aqui. E parecia unir o que já estava junto, além é claro de apartar o que já estava separado.

Os conselhos, essas coisas que a gente sempre pode ouvir, em vagões às vezes lotados do metrô, pareciam estar sendo dados aos montes e sendo direcionados a quem se arriscaria a ir à praia de Copa para ver a veterana. Será que Madonna fica boladona de ser chamada de “veterana”? Alguém tem para ela um conselho sobre isso? Ah, não era sobre isso, o conselho no vagão entupido de gente? Não, era para quem quisesse ouvir, e era em torno duma regra básica para eventos deste naipe naquele bairro: “levar o celular do ladrão”. Pra quem veio de fora, o encontro com Madonna na praia vai ser uma aula/prova de sobrevivência. Para quem é da cidade, idem.

E pra quem não tem maturidade para absorver ensinamentos assim tão… tão importantes? Tipo a menina de 11 anos, que vai ter que se contentar em ficar na areia mesmo, em meio aos milhões de aconselhados que foram até lá para participar da festa. Precisava ter já chegado aos 13 para participar da promoção que oferecia ingresso VIP para a maratona. O primo do vizinho de um amigo sumido foi quem falou: Madonna publicou no Insta dela que você estará concorrendo a um ingresso VIP se mandar um zap com a palavra “rio”. Tomara que alguém esteja espalhando isso no metrô, porque mesmo que hoje em dia as notícias — as falsas e as muito falsas, principalmente — circulem por celular, artista que já pretendeu orientar o futuro de uma certa humanidade hoje tem uma certa cara de passado e… e é isso que dá pra apontar como legal nela.

Para o cineasta grisalho, parece que nem mesmo isso. Cineasta não aprende mesmo, né? Essa mania de provocar, de achar que dá para fantasiar inveja de verdade… Precisava dizer que aqui no quintal tem pelo menos umas duas dezenas de cantoras melhores do que a material girl? Não deu tempo de pesquisar que intérpretes são estas, porque, além de cheio o metrô anda atrasando muito. Aí, você chega tarde em casa e vai escolher o lado de quem está contra o show em frente ao Copacabana Palace? Não, você vai lá conferir se é verdade essa história de sorteio de ingresso vip porque, cara, se você consegue, vai ser tipo ganhar na loteria. “Menos. Menos. Menos.” Tipo ganhar no bicho, pode ser?  Só não vai arrumar confusão comparando Madonna com um bicho qualquer. O conselho vale também para quem não é cineasta. Ela é da espécie das vencedoras. Das que fazem o mais ranzinza dos alvinegros levantar a bunda do sofá pra dizer que sua música preferida é “Borderline” e, também, rascunhar algo. Já que não vai na porcaria do show. Pelo menos faz uma porcaria de texto.

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Boteco Connection #14 — Luz, câmera… goró e ação!

Que sofrimento, transmitia aquele casal, lá, naquela mesa. Que lavada, a mulher deu no cara. E ele calado.  Ela puxou o que parecia ser toda a história recente do sujeito. Era um daqueles casos em que ninguém precisava se esforçar para ouvir o que estava sendo sussurrado. Roupa suja pode mesmo cheirar mal à beça. Surgiram nomes. Escorreram detalhes . O cara, calado, só garantia que os copos estivessem sempre abastecidos de cerveja. Parecia que um pedido de isqueiro emprestado aliviaria a tensão. O movimento foi feito por alguém que passava, porque ninguém que estava ali perto teria coragem para tanto. Foram seis de 600ml, em pouco mais de meia hora. A virada veio, depois da sétima. “Fala de amor, fala de sentimentos. Eu fiquei lá… A gente combinou. Eu olhava. Vi um cara alto e voltei. Que susto, ali, naquele momento.”

No bar ao lado, um som alto. E um outro personagem, parecendo protagonizar o trailer de outro episódio de “Histórias desgraçadas”. Só podia ser isso que estavam filmando, mas ninguém via as câmeras. A porcaria de música escolhida, ali, não impedia o “público” de enxergar situações. Diante daquela garrafa de cachaça, que ia e vinha, alguém se debruçava sobre o momento que havia sido feita uma importante troca: em vez de amor em migalhas, amor em goles. A garrafa não ficava na mesa, mas não dava para afirmar que era por isso que os goles eram lentos. Apenas ia e vinha, nas mãos de um garçom que parecia querer cumprir corretamente o protocolo de encher o cálice até a beirada, até derramar/escorrer um pouquinho. Dava para apostar que em pouco tempo o bebedor escorregaria da cadeira. Mas não era um programa de apostas. Era uma minissérie sobre amor-lixo ou algo assim. Não era rodriguiano. Era escroto.

Duas meninas pareciam alheias a tudo. Tinham aparência de muito novas e devem, provavelmente, ter que mostrar os documentos para comprovar que estão na idade de consumir álcool. A pitada de terror da filmagem se deu com estas duas. Foram abordadas por um homem em situação de rua: grande e parrudo, com calça Adidas preta bem justa e uma camiseta verde. O que assustava nele era o tamanho. Parou em frente às meninas e deu para entender que se referiu a uma delas chamando-a de Teresa. Ele levou a mão direita ao próprio peito, quando abordou a duas, como se estivesse se desculpando pelo inconveniente. Teresa estava preparando um cigarro. É, um cigarro desses que a gente enrola com tabaco, pondo um filtro para reduzir danos, e acende fazendo pose de quem não está se matando… Depois do amor em migalhas e do amor em goles, surgiria, então, o amor em baforadas. Ela olhou para aquela com quem dividia a mesa, como que pedindo aprovação, e ofereceu o cigarro ao homem. Ele aceitou. As duas pegaram então suas latinhas, encostaram uma na outra, provavelmente sem conseguir com isso provocar nenhum tim-tim, e saborearam longos goles.

Num terceiro pico, estavam dois homens. Cada um com um celular, porque não dá para imaginar o mesmo aparelho para duas pessoas, né? Com boa vontade, era possível engolir o que os roteiristas queriam empurrar para a galera: o amor em kkkk. Parecia ser o tipo que termina mesmo mais rápido.

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@monteiro4852 #173

Deixa que eu deixo. Enfim… Relaxa, que hoje é sexta.

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@monteiro4852 #172

O tempo não existe. Mas está passando.

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Oinc! Oinc!

“Confio mais na Elma Chips do que em mim.” Foi após esta frase, disparada pelo mais “forte” do grupo, que o quarteto mereceu atenção. Eram barbados de camisetas pretas, primeiro falando sobre um amigo que havia morrido recentemente e depois sobre comida. “O bróder empacotou por causa daquela mulher”, concordaram. Conseguiam emendar assuntos aparentemente bastante distintos. Cerveja sempre ajuda, em casos assim. Depois de falarem do falecido, por exemplo, explicaram por que — tirando o “mais forte” — precisavam fazer batata palha em casa: queriam, vejam só, que nas noites de estrogonofe os filhos tivessem uma experiência mais especial.

Comiam empadas como porcos. Era farelo para tudo quanto era lado. As barbas ficavam horríveis, fazendo a gente da plateia pensar como ficariam, também, nas noites de estrogonofe, as tais reservadas para experiências mais especiais. Cerveja pode piorar as coisas, em casos assim. Ao menos, eram porcos solidários. Sujavam-se juntos e pareciam capazes de engordurar, sem muita cerimônia, quem estivesse próximo. No balaio de pautas, pegavam e devolviam histórias, mas voltavam sempre à morte daquele sujeito. Era de se esperar que estivessem tocados com a perda do amigo. Repetiam informações, reafirmavam as teorias. Havia um discurso digamos afinado sobre o que havia sido a pedra no caminho do falecido: “A companheira dele.” A insistência nisso podia alimentar a curiosidade de quem estava perto.

Pegando esta trilha, naquele volume, dava para desconfiar que de alguma maneira queriam envolver toda a calçada na história. Com cerveja ou sem cerveja, pareciam confortáveis no papel, isto é, diante do risco de serem apontados não apenas como porcos, mas como “porcos escrotos”. “Ela parecia a mulher ideal. Os dois eram baixinhos, como personagens de ‘O Senhor dos Anéis’. Depois, cara, ela virou um monstro.” Lá pelas tantas, tiraram lenha da fogueira da encenação, como que cansados de esperar por aplausos. Indicavam o fim do espetáculo. Pareciam assim reduzir a sugestão de castigo que certamente viria após a descida das cortinas e o abandono do palco. Nas naquela altura, era já certo que a condenação viria, indiscutível, provavelmente anunciada com caras enfezadas pelo tribunal de beira de rua. Não dava mais tempo de amenizar nada, nem com a frase final sobre o caso, esclarecendo que a vítima “já tinha trombose, desde cedo”.

Pagar a conta, ao contrário da performance, foi um detalhe que protagonizaram quase em silêncio absoluto, como se alguma “consciência” ou “culpa” tivesse passado a dominar o chiqueiro virtual deles. Apontaram para as maquininhas de cartões, indicando que era daquela maneira que acertariam as coisas. “Crédito ou débito, hein?” Foi quase engraçado ouvir cada um deles respondendo secamente sobre a transação… “Crédito.” “Crédito.” “Crédito.” “Crédito.” Porcos unidos jamais serão vencidos?

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@monteiro4852 #171

Estavam todos bêbados, ontem.

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Ghibli: Dez! Nota dez

Fogo. Fogos. Gente correndo. Bichos falando e impondo desafios. Sapos que se empilham e, em segundos, são capazes de encobrir um moleque. Periquitos afiando facas. Questões amorosas escorrendo por todo lado. Portais entre mundos/dimensões diferentes. Momentos de silêncio. Momentos de silêncio? Se não fossem estes instantes em que quase se conseguia ouvir a respiração da pessoa na poltrona ao lado, a gente poderia estar fazendo uma alusão à folia de Momo, que, apesar dos avisos do calendário, ainda se faz presente na cidade. Mas é melhor do que isso: o negócio é a pré-estréia de “O menino e a garça”, filme de Hayao Miyazaki — a.k.a. Studio Ghibli. Lançada no Japão, em julho de 2023,  a animação chega agora a esta parte do globo.

Após um início já muito intenso, é possível pensar que o filme deve estar na prateleira em que ficam coisas para adultos. Tem morte. Tem guerra. Mas tanto o menino Mahito revela-se um homenzinho corajoso, capaz de lidar com questões “de outro mundo”, quanto, no decorrer da fita, a sucessão de “loucuras” garante sorrisos e ruídos de satisfação à plateia mesmo que ela seja bem heterogênea. O filme é uma adaptação de “How do you live?”, história de Genzaburo Yoshino que o Google informa ter sido publicada pela primeira vez em 1937.

Em duas horas e quatro minutos, o público fica assombrado com detalhes que — não há como evitar — trazem à lembrança os maravilhosos “Ponyo: Uma amizade que veio do mar” (2008), “O castelo animado” (2004) e “Meu amigo Totoro” (1988). Numa brincadeira/tentativa de fazer associações com outras histórias, não é difícil comparar sete senhorinhas com os anões da Branca de Neve. Os prazeres visuais, isto é, os lugares aonde Miyazaki pode te levar dependem um pouco, claro, da tua capacidade de associar as imagens que ele apresenta com referências que já existem. A tal da tua bagagem. Mas mesmo os menos iniciados no circuito da realidade fantástica animada podem ficar atônitos com todo aquele surrealismo-pouco-é-bobagem.

Vale investir num ingresso para ter esta experiência numa sala escura com uma tela gigante lá na frente. Enquanto os celulares não destroem também isto. Ao mostrar gente velha, sopas sendo preparadas, animais, lama e personagens construídos com traços de dor, rigidez e nobreza, Miyazaki como que convida a um exercício de mergulho interno e de resistência. E quando parece que vamos ficar no conforto do entendimento, flertar com um happy end bem explicadinho, o que se ganha é um tapa na cara, seguido pelos créditos.

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A gente que desenha #3

Aquele papo de Natal e fim de ano. Festa, festa, festa. Inclui fácil, fácil, uma última aula. Um último chocolate. Peraí, vamos nos resguardar com as aspas: “último”. Em meses como dezembro, a gente tende a não lembrar de começos. Quando despertou o interesse pelo desenho, pelo café, pelo chocolate, pela…? Não. A gente só sente o tempo passando, chances — se é que podemos chamar assim — escapando. Um tantinho de aprendizagem. Num grupo de estudos, o sujeito é capaz de sentir também que algumas “verdades” flertam com o “absoluto”. A hora de parar, por exemplo. De considerar o troço pronto. Serve tanto para texto quando para desenho.

Nem sempre é fácil, ou mesmo possível, decidir isso. Aí, vem o outro lado da moeda. Ou mesmo outra moeda. Alguém sugerindo que se revisite um determinado trabalho, que ali ainda há (n)o que mexer. Qualquer estômago embrulhado, ar de dor de cabeça, desconforto-sem-nome pode surgir daí. A existência de uma hora “certa” para terminar alguma coisa não significa que todo mundo vai concordar com o momento em que essa necessidade surge.

Você está preparado para uma sentença/sugestão como “Vamos refinar as coisas, hoje… Nesse antigo mesmo… Em vez de começar um novo…”?

Para o que você se preparou? Está tudo OK para participar da foto da turma, com iluminação dirigida por alguém que se preocupa com luzes e sombras? Está relax para deixar os cliques acontecerem? Será capa de sorrir? Numa sala repleta de artistas e observadores natos, o que ficará evidente na pose da turma? Os que os sorrisos dirão? O que a luz dirá? O que as sombras dirão? Apertos de mão fortes. Sorrisos repetidos e ao mesmo tempo ímpares. Abraços. A lembrança de um desenho que representa uma vitória, ou, ao menos, um passo dado.

Ah, as sombras. Fim de ano é dia de lembrar de frases marcantes. Tipo “Core shadow é onde a sombra canta”. É dia de rir com piadas toscas: “A pessoa se mexe porque é aula de modelo vivo… Se não mexesse, seria modelo morto…” É tempo de esperar que as informações se assentem, que deixas ganhem corpo, que vibes circulem. Que chocolates estejam sempre presentes. É dia de no caminho procurar novos sentidos para o que está rabiscado ali nos velhos sobrados da Gamboa: “Vento / Vem me trazer / Boas novas”.