Categorias
Comportamento Crônica Freudcast Literatice Sem categoria XXX

Brain Reward System

Pra algumas coisas, não encontrava palavras. Pra certas palavras, o problema era achar coisas, isto é, ouvintes. Via peças de xadrez, do nada, e pensava em jogadas. Adorava ficar à toa. Na praça, observou um casal que já havia enquadrado, num bar da vizinhança: gestos rápidos, promessas e provocações em voz alta, historinhas mirando quem estava em volta. Mal conseguiam dar bicadas nos dois latões de cerveja que, horas antes, talvez estivessem gelados. Sorrisos amarelos, na madrugada. Talvez por esse motivo, pelo adiantado da hora, estivessem ali. Os bares no Rio hoje em dia fecham cedo. Com concentração, como num jogo de tabuleiro, qualquer um podia pescar o que conversavam aqueles dois. Alternavam climas de velório e festa. “Tem um motel, aqui perto”, disse ela. “Prefiro não comer fritura”, respondeu o mané, como que dando continuidade ao assunto anterior, que passava pelos salgadinhos da época em que eram crianças — quando coxinhas, pastéis e empadinhas tinham outra “moral”. Depois de quase rir, o que seria arriscado, o observador achou por bem desistir da tocaia.

Se estivessem numa mesa de madeira, dessas povoadas por guardanapos, palitinhos, sachês de sal e às vezes garrafinhas de azeite, seria a hora de o homem e a mulher pedirem a conta. Costumavam dizer, nestas ocasiões: “Estamos atrasados, moço, pode por favor fechar pra gente?”. O observador condenou-se por não ser capaz, de imediato, de abandonar a cena; porque conhecia de vista a dupla-alvo. Era na verdade um momento de dúvida. Para geral. O espectador não conseguia vazar. E os dois pareciam não saber bem se continuavam na “brincadeira” que, pelas alianças, era coisa “séria”. Era um encontro que parecia traduzir uma crise.

O homem, bem bêbado, fez sinal com a mão pedindo que a mulher aguardasse. Pegou no bolso da calça um papel amassado: “Vamos conferir. Ver se está tudo certo. Eu pago 25. E o que faltar vocês dividem por dois.” Mandou essa e dirigiu o olhar para o observador, num gesto que poderia ser tomado como o de um tonto que não sabe o que está fazendo ou, o que seria surpreendente, de um marido que sabe sim o que está fazendo. O vigilante, na sua pira enxadrista, preferiu não calcular o próximo lance. Levantou-se da muretinha, num pulo, e se afastou dali. A mulher soluçou e levou a mão, em formato de concha, até a boca. Soluçou, de novo, antes de responder: “Melhor dividir logo por quatro. Assim, fica tode munde satisfeite”, disse, zoando com a onda da neutralidade no vocabulário, tão em alta nos botecos frequentados por eles.

O sujeito por algum motivo desandou a falar que as pessoas não se satisfazem dividindo contas no valor correto. Exagerou, na sequência: “Brain Reward System. Bi… ar… ess… Satisfação é outra coisa. Satisfação é quando você encontra água…” Ela se zangou, como sempre se zangava, nos momentos em que o cara tirava aquela onda de professor: “É sábado, porra! Quase domingo…” Depois de uns instantes de silêncios, foram salvos pelo barulho que poderia ser de uma coruja. “Olha o passarinho”, disse ele, soluçando e fazendo com a mão um formato de concha, do mesmo jeito que ela mostrara. Devia ser uma tradição de família. “Você devia esperar para dizer isso quando a gente chegasse ao motel. Eu sei que aqui somos quatro, o público para a piada é maior. Mas você precisa aprender a esperar.” Ela podia estar se vingando do momento-aula sobre Brain Reward System.

Chamava a atenção, o figurino dos dois: muitas peças brancas. Oxalá talvez pudesse explicar aquilo. O vestido dela era justo e estava surpreendentemente limpo para alguém que tropeçava tanto nas palavras. Menos caprichoso, o mané usava uma camiseta meio amassada e amarelada na altura dos sovacos. Cada um tinha uma pequena mochila e levavam, também, sacolas de mercado. Quando saiu do ambiente, instantes antes, o observador havia olhado para aquelas bolsas largadas displicentemente e pensou, quase falando, em voz baixinha: “Tomara que não tenha nada que precise de geladeira…”

Categorias
Comportamento Crônica Literatice Música Parece Poesia Poesia Sem categoria Umbigada XXX

Domingão

Quando você tem cadernos, dá um jeito de esvaziá-los. No caso de possuir “apenas” folhas, pode por exemplo espalhar isso em postes. É muito mais “pessoal” do que aderir às campanhas pela sobrevivência dos livros, deixando exemplares disso ou daquilo perdidos por aí num certo dia do ano. Quando tem gente atrás de coisas para serem lidas, não há o que fazer, é preciso dar alguma coisa a elas. Se estiver lidando com gente esquentadinha (ou com potencial de), vale também tomar cuidado porque chamar uma coisa de “coisa” pode dar problema. Como identificar o tipo em questão? Aí, são outros quinhentos.

Domingo é um bom dia para pedir desculpas. Se houver sol, são ainda melhores as chances de aceitação. Aceitação da vida, no caso, não só do discurso implorando perdão. Porque implorar só à Deusa, né? É assim que é, é assim que está. Não vai adiantar desenhar porque vai ter gente que não entende. Aliás, tem coisa que é para desenhar e não para escrever. Coisa, de novo, né? Isso ainda vai dar problema.

A poesia, coitada, já esteve com os dias contados. Mas toda essa limitação internética, esse varejão de letrinhas amontoadas, com o qual todos nós colaboramos, quebrou o galho dos versos. A música também parece ter tido alguma sorte. Está aí em tudo quanto é publicação, isto é, post. Quando um idioma vindo do outro lado do globo dominar as coisas, qual será o resultado? É de “desespero” que pode(re)mos chamar? É tudo circo. Aliás, o Circo também não morreu. Foi se adequando até ganhar dimensões planetárias. Essa cara de palhaço estampada aí não surgiu à toa.

Você sabe que está diante de um compromisso importante quando marca para as 18h e, às 16h, já sente que está no atraso. Pode dar problema na máquina que vende cartões de embarque no metrô, pode não ter motorista de aplicativo querendo aceitar a corrida, pode quase tudo e vai ficar melhor ainda quando isso tudo te ajudar a rir da vida. Nem sempre a cerveja depois do jogo vai garantir que certas verdades sejam ditas, que o sorriso fique invariavelmente amarelo diante do amigo fura-olho. Quando o caô é pregação, você se entrega?

Faltar a uma festa de aniversário e não pedir perdão. Aceitar sorrindo um presente que no fundo é insosso. Perder de propósito um jogo de xadrez para que a criança do outro lado tenha chance de vez em quando de aprender co’a vitória e não co’a derrota. Absolver o vizinho que tira do lugar o tênis que depois da pandemia tu insistes em deixar no corredor. Suportar a morrinha que vem dos cachorros do prédio ao lado. Capinar porque ali há capim; assim como há vida, volta e fim. A estrada é feita de um dia atrás do outro. De desculpas, rezas, e, às vezes, crônicas assim-assim.

Categorias
Comportamento Crítica Crônica Música Resenha

Salve, salve, Chico Chico

Na Grande Bolha Classe-mediana, Subdivisão Metida a Besta a.k.a. Algo Intelectualizada com Pretensões de Descolamento, Microbolha dos que se adiantam para fazer valer a expressão “Sextou!”, só se falava no show do Chico Chico, no Clube Manouche. Em Laranjeiras, nos arredores da São Salvador, um dia antes da apresentação do filho da saudosa Cássia Eller, alguém comentava: “Chicão? Era da sala do meu filho, no CEAT… Fio desencapado, esse moleque. Mas muito talentoso!” Na Tijuca, na São Francisco Xavier, também foi possível pescar comentários a respeito de Francisco Eller: “O show é muito bom. Já vi no Smoking, na Lapa. Agora, acho que só em casas maiores. Tá crescendo. Ninguém segura.” Na noite de sexta (07/07), data em que se celebra(va) entre umbandistas e simpatizantes a força do “malandro” Zé Pilintra, Chico Chico fez bonito. O garoto sabe jogar. Tem que respeitar.

Pessoas de 40 e poucos anos tiraram do armário suas jaquetas de couro e foram até o Jardim Botânico para ver o espetáculo. O ambiente lembrava um pouco o extinto Ballroom. Parecia uma versão reduzida daquele antigo pico do Humaitá, incluindo gente chata às vezes falando alto demais perto do bar. Não chegaram a atrapalhar. Foi divertido ver levarem um susto quando o fio desencapou no entorno, quer dizer, quando Chico Chico desceu do palco e um corredor se abriu para que ele desse uma corridinha, microfone em punho, do palco até os arredores dali de onde se comprava cerveja e outros drinques. Aliás, quantos drinques coloridos, gente; parecia até festa de casamento. Mas o pessoal das jaquetas de couro parecia gostar. Espumante, não, não se via. A cerveja estava bem gelada, pelo menos.

Mas não era só quarentão, na plateia.  Entre os videomakers havia também gente mais nova. E eram estes os que pareciam estar mais afinados com o artista. “Ribanceira” e “O tempo nunca mais firmou” podiam dar a entender que a noite seria de introspecção. Mas “Amarelo amargo” apontava outro caminho. Outros caminhos. Um dos pontos altos da noite. Dava para lembrar um pouco dos primeiros shows do Cordel do Fogo Encantado, no Rival. Não só pela performance do rapaz, mas, também pela poesia — é, poesia — que ele oferecia. Havia firmeza, malandragem e poesia, naquilo que ele entregava ao pessoal que levantava os celulares para registrar o que estava acontecendo.

O momento Chico César  (“Béradêro”) foi outro de arrepiar. Aliás, o garoto soube escolher bem o que levar pros jovens e tiozinhos do Manouche. Tirou onda de grande intérprete com “Norte”, de Carlos Posada. Foi tocante ouvi-lo cantar que “as coisas acontecem / de uma hora pra outra / mesmo que demorem / a vida inteira para acontecer”. Nem precisava daquela coisa de dividir a plateia em duas, durante esta música, para que cada metade repetisse uma parte do refrão. Se houve um vacilo do malandrinho, foi aí.

Chico Chico soube escolher bem as companhias. Caio Prado, uma das participações especiais do show, com sua “Cantiga de Erê” (parceria com Jean Kuperman), estava no palco para um outro grande momento da noite: ajudou o amigo na brincadeira de alternar climas.  Todo mundo gostou. Salve Zé Pilintra. Viva a malandragem. Salve, Chico Chico.

(Foto de Catharina Rocha)

Categorias
Conto Crônica Literatice Poesia Resenha Tipo Poesia Umbigada XXX

Mattoso contra as instagra(mes)mices

Tem essa história de os textos curtos  (e vídeos etc na mesma medida) de hoje em dia nos oferecerem/provocarem uma carga dopaminérgica viciante. Que nos torna preguiçosos. Porque a “satisfação” vem rápido. É um engole-e-cospe ou nem-digere-direito-mas-expele-logo de fazer gosto. Glauco Mattoso, no seu recém-lançado “Promptos Ponctos contos” (Editora Casa de Ferreiro, 2023), rema contra esta maré. Não que sejam demasiado longos, os 20 textos do livro. Mas é que aquela história de ele adotar a escrita revogada pelo Estado Novo, de Getúlio Vargas, em 1943, é uma tijolada desaceleradora e provocativa nas nossas fuças acostumadas com as instagra(mes)mices de hoje em dia. E isso é só o começo.

A “Nota introductoria” serve de aquecimento. “Fazer prosa poetica não é difficil para alguem ja callejado no verso decassylabo. (…) Mantenho o meu historico de bardo bastardo, goliardo, obsceno. Pouco me importo com os falsos moralismos. (…). Nossos tempos revivem a barbarie dessas eras antigas e desfazem illusões dum mundo mais humano que, durante algumas phases dictas democraticas, suppunhamos  que fossem ja conquistas da civilização. São peresciveis, contudo (…).” É isso mesmo, tem “y”, tem “ph”, tem “ll” e o diabo. É Mattoso matando a pau, como ele mesmo dirya. Ou Dyria. Dyrya, talvez? Tem coisa que parece que só Glauco Mattoso sabe.

E há tempos é assim. Décadas atrás, quando brincávamos todos de jovens fanzineiros-revolucionários, GM já era um pouco mais cascudo. Reconhecido como baluarte da poesia marginal, bom de lábia, ele (muito respeitosa e educadamente) nos convidava a uma troca. Mandávamos, numa folha de ofício, um contorno de nossos pés e recebíamos, por exemplo, uma edição do “Manual do pedólatra amador”. O livro tinha este título, na primeira edição (1986). Depois, o negócio mudou de nome, a despeito da correção (e “propriedade”, e “inocência”) explicada por ele para o uso daquela palavra na capa. Hoje em dia, é “Manual do podólatra amador”. Tem na Amazon, pra quem quiser ver e comprar. O autor pode ser considerado pervertido, mas não é bobo.

“O Manual…” tinha aquela pegada SM. Porque naquela época só se usava estas duas letras para se falar do que hoje se chama de BDSM. Os livros deste paulistano de 1951 passeiam muito por este tema/universo. E com “Promptos ponctos” não é diferente. “Ponctual caso de Myrlayne”, “Ponctual caso de Heloiza” e “Ponctual caso de Hamilton”, os três primeiros, deixam isso bem claro. “Bem claro” é o jeito de dizer, porque eles deixam é tudo bem sujo, na medida para o leitor apreciador desta estética fetichista. Vamos chamar de “estética fetichista”. Além disso, para quem é fã do Yoda de “Star Wars”, tem ali no miolo da prosa um jeito de escrever que parece trocar a ordem mais corriqueira das palavras, do mesmo jeito que faz aquele feioso mestre Jedi. Divertido fica.

A frequência com que aparecem personagens com deficiência visual faz crer que há algo de autobiográfico na obra. Ou fantasioso, com muito foco do autor no próprio umbigo. O que é bem Mattosiano. Prepare-se para um conteúdo bem XXX. Laranja-mecanicamente falando, um prato cheio. Pode ser que alguém reclame de “muita erudição”. Mas, pô, é o Glauco, e ele está nessa há muito tempo. A erudição, ou o que se pode chamar assim, fica em segundo plano. Em primeirão está a devassidão.

A escrita é um espetáculo à parte. Você tem que ler com calma. “Mandaram-me tirar a roupa toda, aptaram minhas mãos attraz das costas…” Olha esse “aptaram”! Os contos surgem dando a impressão de serem frutos de relatos obtidos pelo autor. Isso traz um verniz de, digamos, formalidade para o que é revelado ali naquelas páginas. Assim como um cheiro de mofo, de antiguidade. E junto vem um cheirinho de verdade. É tudo tão possível que às vezes se torna assustador. É Glauco Mattoso, o bom e velho Glauco Mattoso. Pronto para escandalizar e/ou satisfazer a tradicional família brasileira.

N.E.: @ed.casadeferreiro, no Instagram.

Categorias
Arte Comportamento Crônica Música Resenha

Segue a, isto é, O Paixão

André parece ter trocado mesmo o Nervoso por Paixão. Pode ser que tenha trocado também o gosto por roupas porque, naquele início de noite, numa sexta que prometia frio mas entregou certo calor, o figurino diferente provocava certa estranheza. Era o lançamento do single “Litoral”, na estação General Osório do metrô, Zona Sul do Rio, e o artista anunciou o início de uma série de apresentações pela cidade. “Litoral” é uma faixa solta, só mesmo um single, mas o artista está na iminência de colocar pra fora um álbum que já há três longos anos lhe dá trabalho. Em clima de celebração, com uma guitarra e um microfone, André Paixão contou com um público formado por passantes e por ilustres amigos, como os músicos Maurício Garcia e Pedro Serra, e a jornalista Catharina Rocha.

Era mesmo verdadeira, a história de turnê. Enquanto esta crônica ganhava vida, dias depois do lançamento, chegava nova mensagem do artista para anunciar uma segunda apresentação nos subterrâneos do Rio. Dia 30, às 19h, na Estação Carioca, Acesso B (Avenida Chile).

Em Ipanema, o show começou com “Só verão”, seguindo o setlist (que foi parar na coleção de dona Cath Rocha). Começou bem. Na verdade, a descontração parecia já estar garantida com o “Segue o líder!” que Paixão, botafoguense de carteirinha e tatuagem, soltou mesmo antes dos primeiros acordes. Vieram “Desencontro marcado” e “Maduro”. A primeira, uma inédita feita em parceria com Bernardo Vilhena. Mas foi em “Um sonho de transatlântico” que mais sorrisos foram vistos. Dentes de todos os tipos apareceram/brilharam, entre as cabeças que emergiam das entranhas da General Osório. Se teve um trem que chegou em boa hora, foi aquele lá.

O velho hit “O bom veneno” deu as caras, anunciado por uma introdução noise-barulhenta. Quase como que um rastro mais nervoso-no-wave em meio a toda aquela paixão. Se houvesse também alguma pequena multidão desembarcando, ali,  naquele instante, teria sido ótimo. Mas tem trem que é daquele jeito: não vem na hora certa. “O bom veneno deve ser assim/ E eu te peço / Sirva uma dose desses pra mim”, diz um trechinho. De um passado menos distante, ressurgiu “Já desmanchei minha relação”, que também caiu muito bem. “Curtindo a solidão… Assoviando essa canção”, lembra? “E é por essas e outras que eu não tenho mais saco pra te servir, meu bem…”, lembra? Os tempos são outros. É tudo líquido, dizem. Mas “Já desmanchei minha relação” tem um potencial radiofônico para todas as épocas.

“Saturation” era a última da lista. Mas houve tempo para mais pérolas. A noite terminou com um repeteco de “Maduro”, que — esta, sim — também fará parte do próximo álbum. “A vida é assim/ Veja as folhas no jardim (…) Todos são bem parecidos/ Quando sentem que o pior está por vir…”

Categorias
Cinema Comportamento Crônica Literatice Sem categoria Vídeo

Codinome Dondoca

Se você é duma geração que teve a sorte de assistir ao “Agente 86”, deve lembrar de quando no seriado Maxwell Smart, aquele do sapatofone, recomendava ao Chefe o uso do Cone do Silêncio. Era um dos melhores momentos dos dois. O ator Don Adams nasceu para aquele papel, o de espião do Controle. O nome da agência deles era Controle. O Chefe, vivido por Edward Platt, ficava doido, quando Max sugeria o Cone para que tratassem de algum assunto sério. Era o protocolo, mas o Chefe sabia que o dispositivo não funcionava bem. Eles gritavam, dentro daquele troço, e não se entendiam. Era como se o Cone do Silêncio fizesse justamente o contrário do que deveria: em vez de proteger uma conversa, fazia com que ela fosse revelada ao mundo. Mais ou menos como um aparelho de celular pode fazer, hoje em dia.

Pode, sim. Olha só. A moça começou falando tranquilamente, mas parecia querer manter livres as mãos. Para poder beber sua água mineral gasosa cara, brincar com o cachorro que a acompanhava, mexer toda hora no cabelo na tentativa de impedir a ação do vento que teimava em deixá-la despenteada… Sabe-se lá. Ela então fez com que o aparelho funcionasse no modo viva-voz. Isso, depois de aparentemente encontrar já, antes, certa dificuldade para ouvir e ser ouvida pela pessoa que estava do outro lado da linha. Antes do modo viva-voz, ela tentou o esquema de encostar/grudar no ouvido a borda menor do retangulozinho mágico. Como se fosse inserir o aparelho na cabeça, através da orelha. Não rolou.

Era cedo, ainda, mas já se podia ver na rua outras pessoas, também com seus cachorros e garrafinhas de água, além, claro, de seus próprios e maravilhosos retangulozinhos mágicos. Se havia ali algum sortudo da Era Maxwell Smart, certamente lembrou do Cone do Silêncio. Como que para manter o clima de agência de espionagem, nasceu naquele momento um codinome: Dondoca. Melhor: Dondoca Smart.

A Dondoca Smart falava quase aos berros, mas mantendo o que se podia chamar de “elegância”. O vento e a garrafinha verde de vidro contribuíam. A missão revelada por ela era ajudar a organizar a festa de aniversário da avó. Soubemos logo em seguida que a coisa toda acontecerá em Brasília, para onde irão primos, primas, tios. Não se falou em cunhados ou cunhadas. Vai ser em outubro. E “vai ter até ministro”. Se alguém da Caos — a agência rival/inimiga do Controle — estivesse ali, teria pescado informações preciosas.

Outra grande questão que se apresentou foi sobre a hospedagem daquela parentada toda. Foi nesse momento que a Dondoca Smart entregou um ponto fraco. Preocupava-se com o conforto das pessoas mais velhas. Pelo menos de uma. Isso ficou claro porque, ao falar do assunto, debruçada sobre o retangulozinho mágico que repousava naquela mesa de concreto, numa praça pública, insistiu com firmeza: “Tem que ver onde a tia Gertrudes vai dormir. Tem que ver onde a tia Gertrudes vai dormir. Tem que ver onde a tia Gertrudes vai dormir.” Alvo fácil para o Caos, quer dizer, a Caos. Uma Dondoca Smart não pode dar aquele “mole” todo.

Categorias
Beber Comportamento Crônica Literatice Música Paulo-Coelhismo XXX

Boteco Connection #12 — Santa dança

Pode ser que a chuva tenha contribuído para azeitar as engrenagens e, assim, acionado os flashes de memória de Godie Boy. Talvez ele precisasse lembrar de coisas boas, em vez de ficar pensando no amigo que havia partido semana passada por causa de uma treta depois de um jogo de futebol. A moça de azul e branco, do outro lado da rua, claro, também colaborou: mobilizou a atenção do cara, talvez construindo a base de histórias para, quem sabe, serem contadas daqui a duas décadas. Ela se movia como se fosse música. Ela era música. Vai entender. Mas o que aconteceu foi que… Num piscar de olhos, Godie Boy saiu da laranjante Praça São Salvador do apocalíptico 2023 e pegou uma passagem até a Santa Teresa de 28 anos atrás.. Estávamos indo em direção ao século passado, compadre. Que chuva era aquela!?

“Eu tinha 18 anos e era a primeira vez que ia a Santa Teresa. Pro Simplesmente, tá ligado?”, perguntou/desafiou, como se fosse um rapper. “Existia rapper, em 1995?”, brincou, antes de lembrar sorrindo de um Seu Jorge na calçada “esticando o copo pra pescar um gole de cerveja quando via uma garrafa vindo do balcão”.  Lembrou de Dulce, que segundo ele na época era dona do bar, e de quem depois tornou-se amigo. “Era uma noite daquelas em que a gente não queria ficar na calçada. Tinha saído da Tijuca, com os amigos, já estava todo mundo calibrado. Mas a gente queria cerveja. Era um balcão de madeira.”

O sorriso se alargou quando Godie Boy começou a explicar que sua relação com aquele bairro é muito estreita. Íntima. Intensa. Longa. E tudo por causa de Teresa, que ele conheceu justamente naquela noite. Olha só o nome dela. “Ela se chamava Teresa, cara. Tinha começado a tocar uma música do The Doors. E ela me olhou e perguntou: ‘Vamos dançar!?’ Sabe aquela ‘Riders on the storm’? Era essa…” Números entraram em cena para dar detalhes ao encontro, como que fazendo tudo ganhar precisão: “Eu tinha 18. Ela tinha 36. Tinha o dobro da minha idade, cara! Eu fui para Santa, dancei com Teresa, e comecei a frequentar o bairro. Conheci várias coisas por lá. A gente ficou. Eu todo animado, naquela primeira noite, achando que ia ter de tudo, mas ela falou que estava na casa dos pais, com a filha, e o que aconteceu foi que a gente só se beijou. muito, ali… Os amigos dela era ainda mais velhos. Eu era muito moleque.”  

O século passado parecia ter sido mesmo muito divertido para GD. Ele emendou contando que foi neste mesmo bar que reencontrou duas moças de Itu. Duas que havia conhecido num acampamento em Trindade. As meninas tinham confessado que queriam vir para o Rio estudar teatro e, anos depois, na boa e velha ST, eis que GD revê as duas… não como frequentadoras, mas, sim, como funcionárias do bar. Aí, as histórias ganharam o terreno da malandragem numa perspectiva menos edificante: “A gente pedia uma cerveja. Vinham duas e mais uma caipirinha. Elas deram muita moral pra gente. Dormia lá, quando o bar fechava, num sofá. Bons tempos.”

Alguém chega perto, como que atraído pela vibração da história do “garoto”. Godie Boy tinha se transformado num moleque, revisitando brincadeiras de décadas passadas. Mesmo quem pegava o bonde andando acaba se divertindo. Uma alma qualquer pegou o telefone e youtubeou para achar uma versão de “Riders on the storm”, o que deixou todo mundo impressionado com os ruídos de chuva que vinham da gravação. Aquela tarde era nossa. Geral garoteando. Engrenagens rodando que era uma beleza.

Categorias
Beber Comer Comportamento Crônica Freudcast Literatice Umbigada

Vinhozinho, vai? (#hiperlocal01)

Quinze minutos de evento: queijos e embutidos sumiam sem cerimônia do espaçoso tampo de vidro em que se enfileiravam, também, grandes taças para os vinhos e outras, menores, para quem precisasse de goles de água. O fenômeno da transformação de comida em vapor se dava mesmo antes da chegada das bebidas. Reúna iguarias numa mesa e elas vão sumir em pouco tempo, não importa o tipo de gente que esteja em volta. Não importa a década. Não importa quem está no Governo. Naquela tarde, nove em cada dez eram homens com camisa de mangas compridas trazendo aquele bonequinho em cima de um cavalo. Ralph Lauren, é assim que chamam. Nenhuma era do jacarezinho, também conhecida como Lacoste. Oito em cada dez eram vestimentas com botões de cima a baixo. Houve um tiozinho quem investiu no formato pra-dentro-da-calça. O convite avisava que seria uma tarde de apresentação de novos rótulos — Oscar Haussmann e Chateau St. Thomas — mas era na explicação da representante comercial que estava a promessa de crônica: uma degustação de vinhos alemães e libaneses.

Uma tarde de dualidades. Era comum nas coletivas de artistas que estavam lançando alguma coisa, nos anos 90 e 00: uma mistureba que reunia figurões dos grandes jornais e o pessoal dos veículos alternativos. Todo mundo comia das pastinhas que as assessoras de imprensa usavam para animar aqueles encontros. E a partir daí, do consumo de comidinhas, a divisão começava a ficar mais caricata. De um lado, marrentões que apontavam os “pequenos” como comilões. Do outro, “pequenos” que de fato às vezes agiam como mortos de fome. Essa dicotomia Alemanha-Líbano podia não ser uma viagem ao passado do jornalista que foi parar lá porque fazia, agora, também o papel de dono de um bar. Mas soava como diversão. Todo fim de mês, donos de bar precisam procurar diversão, para lidar com o movimento mais fraco.

Começaram com os alemães. E o primeiro mostrou-se doce demais. Estranho, dar a partida desse jeito. As especialistas deviam ter suas razões para apostar no OHO1 — Riesling Semi Sweet. A explicação não veio com qualquer aprofundamento, foi quase um “é doce porque é doce”. Na sequência, o OHO1 — Dry e depois o OHO1 — Reserve. Pareciam feitos/servidos só para amaciar, estes rieslings. A melhor coisa a se fazer era abandonar momentaneamente o pessoal dos distintivos de cavalinho para perguntar ao Google sobre aquela uva. E eis que a gente descobre que se trata da uva branca mais cultivada na Alemanha. A França é a segunda maior produtora dessa parada.

O aparecimento de um convidado vestindo bermuda cargo foi como um sinal. Vieram também um balde para descarte e novas garrafinhas de água. Descarte? É, se o cara não gosta muito do que está bebendo ou já provou o suficiente daquilo, manda o restante para o baldinho. Queijo e presunto, ninguém joga fora. Vinho, sim, as pessoas são capazes de dispensar. Não é para tudo que o ralph-laurenismo te prepara adequadamente.

A quarta tacinha daquela tarde era com o primeiro libanês: o chardonnay St. Thomas 2020. Um branco que provocou estranheza. Mas pareceu abrir também a porteira da diversão. Talvez os alemães tivessem feito bem o papel de amaciar o pessoal. Talvez, talvez. Como que poupando uma ida ao Google, a moça que conduzia o abastecimento das taças informou que há uma grande influência francesa na produção libanesa daquele tipo de bebida.

“Manga”, apostou uma convidada, falando de algo que ela tinha sentido ali no vinho. E no flow outras tantas palavras surgiram, como numa rodada de Adedanha. “Mel”, disse alguém, contando com a aprovação de bebedores do lado noroeste da mesa. O escriba que vos digita arriscou um “Tem algo defumado, aqui” e também contou com a aprovação do mesmo grupo. Ali, já dava para perceber que, em termos de vinho, os alemães são (ou tinham sido, naquela tarde) mais “fáceis” do que os libaneses. Isto é, os sabores das bebidas libanesas ali apresentadas eram indiscutivelmente mais complexas e animadoras do que as alemãs.

Da mesma origem, vieram um Pinot Noir 2017, um Les Gourmets Rouge 2018 e… Libanês vai, libanês vem, chegava a hora da última garrafa, aquela que foi apresentada como a grande estrela da tarde: Le Merlot A, de 2009. “Vinho de 1.500,00 Reais”, alguém disse, provocando olhos mais arregalados. “18 meses em barrica”, continuavam, entusiasmados. Até o fechamento deste texto, o preço não havia sido confirmado pelos anfitriões. Seja como for, o produto mereceu ser servido num decanter de cristal. Na taça, o líquido parecia mais oleoso do que os vindos anteriormente, criando desenhos. Impressionante.

Categorias
Crônica Freudcast Literatice Paulo-Coelhismo Sem categoria XXX

Que calor!

Quando Douglas era moleque, chamavam-no de Hot-Doug. Na verdade, era só um cara que falava aquilo, mas fazia isso com tanta frequência que às vezes parecia que o apelido tinha colado. Pouca gente entendia. O Douglas, que era um moleque em situação de rua, era dos que menos entendiam. Quer dizer, não conseguia ligar bem formalmente os pontos, a semântica e a significância, porque estava acostumado a lidar com a insignificância, com a agora famosa e (meio na-moda, muito comentada) invisibilidade. Mas o garoto sabia/sentia que o gringo que se referia a ele daquele jeito tinha alguma “sensibilidade”, algum “interesse”.

Douglas conseguia fugir da babação de ovo que de um modo geral percebia o pessoal exercitar para lidar com essa galera vinda de fora. Estava na rua mas não era bobo. Ou não podia ser bobo. Enxergava algum interesse por trás daquelas palavras, daquela boca, daqueles olhos, daquela cabeça coberta por cabelos dourados. Os cabelos do gringo chamavam a atenção de Douglas. O corpo esquio do menino, os dentes surpreendentemente brancos pra quem mastigava joelhos e empadas e quibes com tanta frequência, o cabelo desgrenhado e o queixo quadrado chamavam a atenção do forasteiro.

Zap! Zooot! Pow! Woool! Bang! De repente, tinha crescido. Rápido. Como se desse um salto. Havia caído em alguns buracos, e, sim, tinha conseguido levantar-se um pouco mais forte. Continuava magro. E tinha encurtado e adotado de vez o apelido, que virou tag: Hot. Douglas agora era o Hot. O Hot-Doug de um ano e pouco atrás estava uns bons dez centímetros mais alto, com alguma altivez. Perdera um pouco da “tranquilidade” com que conseguia se aproximar das pessoas e que, ao longo do dia, lhe garantia boa quantidade de salgadinhos e refrigerantes. Por sorte, ainda não tinha perdido nenhum dos dentes, que seguiam surpreendentemente brancos.

O estrangeiro e duas mulheres que moravam no 59, Diná e Ruiva, tinham tentado fazer o menino seguir carreira militar. As duas preferiram não entender, ou não foram mesmo capazes, quando ouviram-no confessar que gostava de gente fardada. Quando o jovem que viram crescer ia completar a idade certa, recorreram a um pessoal da assistência social do município e conseguiram os documentos necessários para que ele se alistasse. Dizem na rua que a única exigência era que Douglas ficasse, por três meses, num certo abrigo. Isso era necessário para que pudesse comprovar residência fixa. Estava tudo certo. Farda garantida. Um futuro na vida. O trio Gringo-Diná-Ruiva mobiizou-se para que isso acontecesse. As duas fizeram promessa. Mas Douglas já não era Douglas, nem Hot-Doug. Era o Hot e não conseguiria ficar tanto tempo sob um teto.

O trio continuava achando estar diante de um menino. Aparentando cansaço, declarando frustração, começaram a planejar para o “pupilo” uma vida de modelo. O fã de fardas foi quem fez a sugestão e as duas toparam. Conseguiram “convidá-lo” para uma pizza numa lanchonete que ficava perto do abrigo. Ele argumentou, quer dizer, deu uma ideia e disse que perto do abrigo não seria uma boa. Mas o trio achou por bem insistir. Achavam que Douglas deveria aprender a lidar com seus medos. E Hot aceitou. Eram 19h, quando os quatro se encontraram, na calçada. E dali dava para ouvir os gritos que vinham de dentro do abrigo. Não era possível saber se eram só zoação, se havia alguém levando um sacode. Seria possível apostar que havia alguma dor envolvida, ali, naquilo tudo. Hot olhou para o trio e perguntou se em vez da pizza podia pedir um joelho. Foi o que rolou: um joelho e um refri.

Categorias
Beber Cinema Comportamento Crônica Freudcast Literatice Paulo-Coelhismo Sem categoria Umbigada Vídeo

O sobrevivente

Nas imortais palavras de Wander Wildner, “Boa sorte, boa morte”. É assim que o sempre-Replicante, atual punk-brega, ícone-ídolo dos corações revoltados de outrora e agora porta-voz de suspirantes-crentes-no-amor terminava “Boa morte”, faixa da sensacional fitinha do grupo Sangue Sujo (da época em que WW era mais “só punk mesmo”). O cassete morreu, mas, por sorte, podemos usar o YouTube para comprovar a existência da máxima. Sorte? Morte? Palavras que, claro, não surgem à toa. Confissões chorosas que podem, sei lá, saltar duma mesa bem ao lado, são capazes de anunciar que o fim está próximo. E no fim das contas — como também diz a letra — “Um dia qualquer no fim das contas você vai morrer”.

Rebobinando ainda mais, e ainda mantendo a atenção ao que vaza da conversa na vizinhança, o escriba revive/constata o drama de Aloisio Dantas, ou Alolô, como zoavam os amigos antes de jogarem pra cima dele o terrível Já-Morreu. Ah, nada como uma reunião de amigos de colégio (suspiro) para conseguir inspiração. Como cresce um garoto, depois de ganhar um apelido assim? Naquela época, não chamavam isso de bullying. Era só sacanagem mesmo. Talvez por isso tenhamos nos transformado num país campeão na formação de psicólogos. O curso atualmente é dos mais procurados, como apontou uma edição da ainda — e surpreendentemente — viva “Folha de S. Paulo”.

Sermos campeões no número de dentistas não fez de nós, ao longo de décadas passadas, uma nação menos boca-suja. Vamos ver o que o pessoal da Psicologia vai conseguir, nas próximas eras. Se serão capazes de ajudar a gente a lidar melhor com a inevitabilidade do Fim. Ou, o que já pode ser um grande adianto, a aproveitar as pequenas mortes. Como no francês, sabe? Pequena morte, sacou? Sacou?

Vestir o paletó de madeira virou assunto banal. Há para isso a contribuição do jornalismo-lixo dos programas televisivos de depois do almoço. A gente diz “jornalismo-lixo” porque o jornalismo mais romântico não sobreviveu para ser/manter-se fã de Wander Wildner. Morreu faz tempo, o pobre coitado. A morte parece hoje tão líquida quanto as relações. Não vão achar absurdo, daqui a um tempo, escolher quem vai morrer através de um aplicativo. Se as pessoas escolhem seus pares passando dedos em telas de telefone, daí para usarem o mesmo método para apontarem quem irá desta para melhor é um pulo. Quer dizer, um clique. No século passado, o Schwarza — eita cara bom de matar gente na grande tela — protagonizou um filme em que um troço mais ou menos assim acontecia num show de TV. Qualquer semelhança com os programas de hoje em dia depois do almoço não é mera coincidência.

É claro que a Inteligêntsia sempre vai poder bater no peito bronzeado e eventualmente bem agasalhado para dizer que a Morte faz parte do jogo. Ah, a Inteligêntsia e seu desprendimento. Ah, a Inteligêntsia e suas referências. Vão dar um jeito de desenterrar “O sétimo selo”. Se bem que vão tirar isso do grande caixão da História mas, apesar de — OK — ser uma grande fita, quem é que vai ter paciência de assistir ao que fez o Bergman, hoje em dia, para depois discutir a respeito? Isso morreu! Nem os psicanalistas fazem mais isso.

Ninguém vai ficar pra semente, como garante a tiazinha do bar, enquanto faz pular as chapinhas dos litrões que os eternos estudantes pediram para a nova rodada de ressurreições. Depois de amanhã, ela diz, com cara séria, “é aniversário de morte da minha irmã”. Um momento de silêncio. E alguém levanta um brinde em homenagem a dona Marli. Beber para jogar Luz no caminho de alguém. Taí. Uma hora alguém ia achar uma coisa boa pra fazer com essa história toda de Morte. Saúde!