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Rainha do pop… Zzz…

O que torna uma pessoa merecedora disso ou daquilo? A gente merece o show de Madonna, aqui no Rio? A pergunta não quer dizer que o escriba a considere grande coisa. E tampouco a última frase serve para colocá-la num lixo liliputiano qualquer. A questão é: aqui está a artista, em pauta/alta. Nos últimos dias, foi esculhambada por um velhaco cineasta lacrador, celebrada por uma colunista bonitona e de veiculozão, passou pelas confissões de uma crítica gastronômica que lamentava que seus amigos chefs não lhe tivessem dado qualquer informação relevante… Madonna estava em todos lugares, nos últimos dias. Até aqui. E parecia unir o que já estava junto, além é claro de apartar o que já estava separado.

Os conselhos, essas coisas que a gente sempre pode ouvir, em vagões às vezes lotados do metrô, pareciam estar sendo dados aos montes e sendo direcionados a quem se arriscaria a ir à praia de Copa para ver a veterana. Será que Madonna fica boladona de ser chamada de “veterana”? Alguém tem para ela um conselho sobre isso? Ah, não era sobre isso, o conselho no vagão entupido de gente? Não, era para quem quisesse ouvir, e era em torno duma regra básica para eventos deste naipe naquele bairro: “levar o celular do ladrão”. Pra quem veio de fora, o encontro com Madonna na praia vai ser uma aula/prova de sobrevivência. Para quem é da cidade, idem.

E pra quem não tem maturidade para absorver ensinamentos assim tão… tão importantes? Tipo a menina de 11 anos, que vai ter que se contentar em ficar na areia mesmo, em meio aos milhões de aconselhados que foram até lá para participar da festa. Precisava ter já chegado aos 13 para participar da promoção que oferecia ingresso VIP para a maratona. O primo do vizinho de um amigo sumido foi quem falou: Madonna publicou no Insta dela que você estará concorrendo a um ingresso VIP se mandar um zap com a palavra “rio”. Tomara que alguém esteja espalhando isso no metrô, porque mesmo que hoje em dia as notícias — as falsas e as muito falsas, principalmente — circulem por celular, artista que já pretendeu orientar o futuro de uma certa humanidade hoje tem uma certa cara de passado e… e é isso que dá pra apontar como legal nela.

Para o cineasta grisalho, parece que nem mesmo isso. Cineasta não aprende mesmo, né? Essa mania de provocar, de achar que dá para fantasiar inveja de verdade… Precisava dizer que aqui no quintal tem pelo menos umas duas dezenas de cantoras melhores do que a material girl? Não deu tempo de pesquisar que intérpretes são estas, porque, além de cheio o metrô anda atrasando muito. Aí, você chega tarde em casa e vai escolher o lado de quem está contra o show em frente ao Copacabana Palace? Não, você vai lá conferir se é verdade essa história de sorteio de ingresso vip porque, cara, se você consegue, vai ser tipo ganhar na loteria. “Menos. Menos. Menos.” Tipo ganhar no bicho, pode ser?  Só não vai arrumar confusão comparando Madonna com um bicho qualquer. O conselho vale também para quem não é cineasta. Ela é da espécie das vencedoras. Das que fazem o mais ranzinza dos alvinegros levantar a bunda do sofá pra dizer que sua música preferida é “Borderline” e, também, rascunhar algo. Já que não vai na porcaria do show. Pelo menos faz uma porcaria de texto.

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Salve, salve, Chico Chico

Na Grande Bolha Classe-mediana, Subdivisão Metida a Besta a.k.a. Algo Intelectualizada com Pretensões de Descolamento, Microbolha dos que se adiantam para fazer valer a expressão “Sextou!”, só se falava no show do Chico Chico, no Clube Manouche. Em Laranjeiras, nos arredores da São Salvador, um dia antes da apresentação do filho da saudosa Cássia Eller, alguém comentava: “Chicão? Era da sala do meu filho, no CEAT… Fio desencapado, esse moleque. Mas muito talentoso!” Na Tijuca, na São Francisco Xavier, também foi possível pescar comentários a respeito de Francisco Eller: “O show é muito bom. Já vi no Smoking, na Lapa. Agora, acho que só em casas maiores. Tá crescendo. Ninguém segura.” Na noite de sexta (07/07), data em que se celebra(va) entre umbandistas e simpatizantes a força do “malandro” Zé Pilintra, Chico Chico fez bonito. O garoto sabe jogar. Tem que respeitar.

Pessoas de 40 e poucos anos tiraram do armário suas jaquetas de couro e foram até o Jardim Botânico para ver o espetáculo. O ambiente lembrava um pouco o extinto Ballroom. Parecia uma versão reduzida daquele antigo pico do Humaitá, incluindo gente chata às vezes falando alto demais perto do bar. Não chegaram a atrapalhar. Foi divertido ver levarem um susto quando o fio desencapou no entorno, quer dizer, quando Chico Chico desceu do palco e um corredor se abriu para que ele desse uma corridinha, microfone em punho, do palco até os arredores dali de onde se comprava cerveja e outros drinques. Aliás, quantos drinques coloridos, gente; parecia até festa de casamento. Mas o pessoal das jaquetas de couro parecia gostar. Espumante, não, não se via. A cerveja estava bem gelada, pelo menos.

Mas não era só quarentão, na plateia.  Entre os videomakers havia também gente mais nova. E eram estes os que pareciam estar mais afinados com o artista. “Ribanceira” e “O tempo nunca mais firmou” podiam dar a entender que a noite seria de introspecção. Mas “Amarelo amargo” apontava outro caminho. Outros caminhos. Um dos pontos altos da noite. Dava para lembrar um pouco dos primeiros shows do Cordel do Fogo Encantado, no Rival. Não só pela performance do rapaz, mas, também pela poesia — é, poesia — que ele oferecia. Havia firmeza, malandragem e poesia, naquilo que ele entregava ao pessoal que levantava os celulares para registrar o que estava acontecendo.

O momento Chico César  (“Béradêro”) foi outro de arrepiar. Aliás, o garoto soube escolher bem o que levar pros jovens e tiozinhos do Manouche. Tirou onda de grande intérprete com “Norte”, de Carlos Posada. Foi tocante ouvi-lo cantar que “as coisas acontecem / de uma hora pra outra / mesmo que demorem / a vida inteira para acontecer”. Nem precisava daquela coisa de dividir a plateia em duas, durante esta música, para que cada metade repetisse uma parte do refrão. Se houve um vacilo do malandrinho, foi aí.

Chico Chico soube escolher bem as companhias. Caio Prado, uma das participações especiais do show, com sua “Cantiga de Erê” (parceria com Jean Kuperman), estava no palco para um outro grande momento da noite: ajudou o amigo na brincadeira de alternar climas.  Todo mundo gostou. Salve Zé Pilintra. Viva a malandragem. Salve, Chico Chico.

(Foto de Catharina Rocha)

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Segue a, isto é, O Paixão

André parece ter trocado mesmo o Nervoso por Paixão. Pode ser que tenha trocado também o gosto por roupas porque, naquele início de noite, numa sexta que prometia frio mas entregou certo calor, o figurino diferente provocava certa estranheza. Era o lançamento do single “Litoral”, na estação General Osório do metrô, Zona Sul do Rio, e o artista anunciou o início de uma série de apresentações pela cidade. “Litoral” é uma faixa solta, só mesmo um single, mas o artista está na iminência de colocar pra fora um álbum que já há três longos anos lhe dá trabalho. Em clima de celebração, com uma guitarra e um microfone, André Paixão contou com um público formado por passantes e por ilustres amigos, como os músicos Maurício Garcia e Pedro Serra, e a jornalista Catharina Rocha.

Era mesmo verdadeira, a história de turnê. Enquanto esta crônica ganhava vida, dias depois do lançamento, chegava nova mensagem do artista para anunciar uma segunda apresentação nos subterrâneos do Rio. Dia 30, às 19h, na Estação Carioca, Acesso B (Avenida Chile).

Em Ipanema, o show começou com “Só verão”, seguindo o setlist (que foi parar na coleção de dona Cath Rocha). Começou bem. Na verdade, a descontração parecia já estar garantida com o “Segue o líder!” que Paixão, botafoguense de carteirinha e tatuagem, soltou mesmo antes dos primeiros acordes. Vieram “Desencontro marcado” e “Maduro”. A primeira, uma inédita feita em parceria com Bernardo Vilhena. Mas foi em “Um sonho de transatlântico” que mais sorrisos foram vistos. Dentes de todos os tipos apareceram/brilharam, entre as cabeças que emergiam das entranhas da General Osório. Se teve um trem que chegou em boa hora, foi aquele lá.

O velho hit “O bom veneno” deu as caras, anunciado por uma introdução noise-barulhenta. Quase como que um rastro mais nervoso-no-wave em meio a toda aquela paixão. Se houvesse também alguma pequena multidão desembarcando, ali,  naquele instante, teria sido ótimo. Mas tem trem que é daquele jeito: não vem na hora certa. “O bom veneno deve ser assim/ E eu te peço / Sirva uma dose desses pra mim”, diz um trechinho. De um passado menos distante, ressurgiu “Já desmanchei minha relação”, que também caiu muito bem. “Curtindo a solidão… Assoviando essa canção”, lembra? “E é por essas e outras que eu não tenho mais saco pra te servir, meu bem…”, lembra? Os tempos são outros. É tudo líquido, dizem. Mas “Já desmanchei minha relação” tem um potencial radiofônico para todas as épocas.

“Saturation” era a última da lista. Mas houve tempo para mais pérolas. A noite terminou com um repeteco de “Maduro”, que — esta, sim — também fará parte do próximo álbum. “A vida é assim/ Veja as folhas no jardim (…) Todos são bem parecidos/ Quando sentem que o pior está por vir…”