“TX” foi como uma galera se acostumou a fazer referência ao “táxi”. Ah, a era das abreviações… “Valeu” virou “vlw”; “obrigado” passou a ser “obg”. E por aí vai. Mas uma citação que se espreme em duas letras pode ser considerada carinhosa/relevante? Sim, sim. Duas letras são capazes de exprimir apreço, medo, ofensa. “Cu” é um bom exemplo disso, para falar de um componente muito presente em nossos cotidianos. E voltando aos encurtamentos: quem nunca teve que encarar um “vtnc” num debate sobre política no Zap? Não soa mais ameno do que quando todas as letras são usadas? Mas fiquemos no universo dos taxistas, estes quase-pescadores/historiadores, às vezes safados [como qualquer dono(a) de cu pode ser], às vezes prestativos, gente conhecedora das leis, de Economia. Um pessoal que parece saber a Verdade. Isso tudo pra afirmar: ponto de táxi perto de um boteco pode ser garantia de animação fora da curva.
Fora da curva, não fora do taxímetro. Porque ninguém acorda cedo para levar desvantagem nas vias do Rio de Janeiro. Em grupo, eles se sentem seguros. Normal. Mas mais do que isso: parecem também capazes de oferecer segurança/proteção. Não numa perspectiva miliciana. Na camaradagem, em nome de uma certa “família”. Em português mesmo: família. Taxista, graças aos céus, é um cara que parece ter conseguido fugir dos anglicismos. Não existe meeting de taxistas. Existe churrasco mesmo. E mesmo se a carne estiver bonita, eles vão deixar pra lá a fome e vão conduzir o bêbado classe-mediano que saiu do boteco até o endereço informado. Porque agora tem a concorrência do Uber, né, então, minha gente, é tempo de ser mais prestativo do que nunca.
Os apelidos compõem um ingrediente espetacular. Filé. Fofão. Conde. Tim Maia. China. Kiko. Chaves. Medonho. Lobinho. Quando estão juntos, num dia fraco de corridas, ou numa noite com poucos bêbados solitários precisando chegar em casa logo para vomitar e mergulhar no sofá, o clima na calçada é de Segundo Grau. Segundo Grau no sentido de período escolar, o que hoje é conhecido como Ensino Médio. Ver um bando de “adultos”(#sqn) se zoando, a ponto de dois se juntarem para fazer uma cama-de-gato que vai derrubar um terceiro… Não tem preço. Esta categoria, a de taxista, parece às vezes ser um indicativo do que é a sociedade. Há as pessoas mais “sérias”, há os com os carros mais bonitos, há os que confrontam uma torcida inteira e após uma garrafada no quengo choram como bebês, há os que mentem descaradamente, e ainda há os que não querem te levar a Santa Teresa usando como justificativa aquele caô de que “os trilhos do bonde podem rasgar os pneus do carro”. E — viva! — tem os que servem de “inspiração”, quando um escriba quer manter a regularidade e parece não ter sobre o que falar.
Taxistas parecem ser uma viagem ao passado. A um mundo pré-internet. Você não pode entrar no carro do Fofão — ainda mais se for o Fofão — e mandar uma mensagem com letras maiúsculas exigindo que ele desligue o rádio. Tem que investir na cordialidade e pedir com jeito. Esse pessoal em carros amarelos com listas azuis, aqui no Rio é assim, esse pessoal passa pelo mundo e vê o mundo passar. Às vezes, em alta velocidade. Nem sempre respeitam sinais. Nem sempre fazem os melhores caminhos. Quase nunca têm troco. Às vees, não são assim tão simpáticos. Nem sempre torcem para o time certo. Nem sempre votam no melhor candidato. Mas a vida é assim. É bom, quando estão ali; depois que a gente sai do boteco.