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@monteiro4852 #162

É como diziam: “Nem tudo que cai do céu é sagrado…”

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@monteiro4852 #161

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Comportamento Crítica Crônica Música Resenha

Salve, salve, Chico Chico

Na Grande Bolha Classe-mediana, Subdivisão Metida a Besta a.k.a. Algo Intelectualizada com Pretensões de Descolamento, Microbolha dos que se adiantam para fazer valer a expressão “Sextou!”, só se falava no show do Chico Chico, no Clube Manouche. Em Laranjeiras, nos arredores da São Salvador, um dia antes da apresentação do filho da saudosa Cássia Eller, alguém comentava: “Chicão? Era da sala do meu filho, no CEAT… Fio desencapado, esse moleque. Mas muito talentoso!” Na Tijuca, na São Francisco Xavier, também foi possível pescar comentários a respeito de Francisco Eller: “O show é muito bom. Já vi no Smoking, na Lapa. Agora, acho que só em casas maiores. Tá crescendo. Ninguém segura.” Na noite de sexta (07/07), data em que se celebra(va) entre umbandistas e simpatizantes a força do “malandro” Zé Pilintra, Chico Chico fez bonito. O garoto sabe jogar. Tem que respeitar.

Pessoas de 40 e poucos anos tiraram do armário suas jaquetas de couro e foram até o Jardim Botânico para ver o espetáculo. O ambiente lembrava um pouco o extinto Ballroom. Parecia uma versão reduzida daquele antigo pico do Humaitá, incluindo gente chata às vezes falando alto demais perto do bar. Não chegaram a atrapalhar. Foi divertido ver levarem um susto quando o fio desencapou no entorno, quer dizer, quando Chico Chico desceu do palco e um corredor se abriu para que ele desse uma corridinha, microfone em punho, do palco até os arredores dali de onde se comprava cerveja e outros drinques. Aliás, quantos drinques coloridos, gente; parecia até festa de casamento. Mas o pessoal das jaquetas de couro parecia gostar. Espumante, não, não se via. A cerveja estava bem gelada, pelo menos.

Mas não era só quarentão, na plateia.  Entre os videomakers havia também gente mais nova. E eram estes os que pareciam estar mais afinados com o artista. “Ribanceira” e “O tempo nunca mais firmou” podiam dar a entender que a noite seria de introspecção. Mas “Amarelo amargo” apontava outro caminho. Outros caminhos. Um dos pontos altos da noite. Dava para lembrar um pouco dos primeiros shows do Cordel do Fogo Encantado, no Rival. Não só pela performance do rapaz, mas, também pela poesia — é, poesia — que ele oferecia. Havia firmeza, malandragem e poesia, naquilo que ele entregava ao pessoal que levantava os celulares para registrar o que estava acontecendo.

O momento Chico César  (“Béradêro”) foi outro de arrepiar. Aliás, o garoto soube escolher bem o que levar pros jovens e tiozinhos do Manouche. Tirou onda de grande intérprete com “Norte”, de Carlos Posada. Foi tocante ouvi-lo cantar que “as coisas acontecem / de uma hora pra outra / mesmo que demorem / a vida inteira para acontecer”. Nem precisava daquela coisa de dividir a plateia em duas, durante esta música, para que cada metade repetisse uma parte do refrão. Se houve um vacilo do malandrinho, foi aí.

Chico Chico soube escolher bem as companhias. Caio Prado, uma das participações especiais do show, com sua “Cantiga de Erê” (parceria com Jean Kuperman), estava no palco para um outro grande momento da noite: ajudou o amigo na brincadeira de alternar climas.  Todo mundo gostou. Salve Zé Pilintra. Viva a malandragem. Salve, Chico Chico.

(Foto de Catharina Rocha)

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@monteiro4852 #160

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Conto Crônica Literatice Poesia Resenha Tipo Poesia Umbigada XXX

Mattoso contra as instagra(mes)mices

Tem essa história de os textos curtos  (e vídeos etc na mesma medida) de hoje em dia nos oferecerem/provocarem uma carga dopaminérgica viciante. Que nos torna preguiçosos. Porque a “satisfação” vem rápido. É um engole-e-cospe ou nem-digere-direito-mas-expele-logo de fazer gosto. Glauco Mattoso, no seu recém-lançado “Promptos Ponctos contos” (Editora Casa de Ferreiro, 2023), rema contra esta maré. Não que sejam demasiado longos, os 20 textos do livro. Mas é que aquela história de ele adotar a escrita revogada pelo Estado Novo, de Getúlio Vargas, em 1943, é uma tijolada desaceleradora e provocativa nas nossas fuças acostumadas com as instagra(mes)mices de hoje em dia. E isso é só o começo.

A “Nota introductoria” serve de aquecimento. “Fazer prosa poetica não é difficil para alguem ja callejado no verso decassylabo. (…) Mantenho o meu historico de bardo bastardo, goliardo, obsceno. Pouco me importo com os falsos moralismos. (…). Nossos tempos revivem a barbarie dessas eras antigas e desfazem illusões dum mundo mais humano que, durante algumas phases dictas democraticas, suppunhamos  que fossem ja conquistas da civilização. São peresciveis, contudo (…).” É isso mesmo, tem “y”, tem “ph”, tem “ll” e o diabo. É Mattoso matando a pau, como ele mesmo dirya. Ou Dyria. Dyrya, talvez? Tem coisa que parece que só Glauco Mattoso sabe.

E há tempos é assim. Décadas atrás, quando brincávamos todos de jovens fanzineiros-revolucionários, GM já era um pouco mais cascudo. Reconhecido como baluarte da poesia marginal, bom de lábia, ele (muito respeitosa e educadamente) nos convidava a uma troca. Mandávamos, numa folha de ofício, um contorno de nossos pés e recebíamos, por exemplo, uma edição do “Manual do pedólatra amador”. O livro tinha este título, na primeira edição (1986). Depois, o negócio mudou de nome, a despeito da correção (e “propriedade”, e “inocência”) explicada por ele para o uso daquela palavra na capa. Hoje em dia, é “Manual do podólatra amador”. Tem na Amazon, pra quem quiser ver e comprar. O autor pode ser considerado pervertido, mas não é bobo.

“O Manual…” tinha aquela pegada SM. Porque naquela época só se usava estas duas letras para se falar do que hoje se chama de BDSM. Os livros deste paulistano de 1951 passeiam muito por este tema/universo. E com “Promptos ponctos” não é diferente. “Ponctual caso de Myrlayne”, “Ponctual caso de Heloiza” e “Ponctual caso de Hamilton”, os três primeiros, deixam isso bem claro. “Bem claro” é o jeito de dizer, porque eles deixam é tudo bem sujo, na medida para o leitor apreciador desta estética fetichista. Vamos chamar de “estética fetichista”. Além disso, para quem é fã do Yoda de “Star Wars”, tem ali no miolo da prosa um jeito de escrever que parece trocar a ordem mais corriqueira das palavras, do mesmo jeito que faz aquele feioso mestre Jedi. Divertido fica.

A frequência com que aparecem personagens com deficiência visual faz crer que há algo de autobiográfico na obra. Ou fantasioso, com muito foco do autor no próprio umbigo. O que é bem Mattosiano. Prepare-se para um conteúdo bem XXX. Laranja-mecanicamente falando, um prato cheio. Pode ser que alguém reclame de “muita erudição”. Mas, pô, é o Glauco, e ele está nessa há muito tempo. A erudição, ou o que se pode chamar assim, fica em segundo plano. Em primeirão está a devassidão.

A escrita é um espetáculo à parte. Você tem que ler com calma. “Mandaram-me tirar a roupa toda, aptaram minhas mãos attraz das costas…” Olha esse “aptaram”! Os contos surgem dando a impressão de serem frutos de relatos obtidos pelo autor. Isso traz um verniz de, digamos, formalidade para o que é revelado ali naquelas páginas. Assim como um cheiro de mofo, de antiguidade. E junto vem um cheirinho de verdade. É tudo tão possível que às vezes se torna assustador. É Glauco Mattoso, o bom e velho Glauco Mattoso. Pronto para escandalizar e/ou satisfazer a tradicional família brasileira.

N.E.: @ed.casadeferreiro, no Instagram.

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Segue a, isto é, O Paixão

André parece ter trocado mesmo o Nervoso por Paixão. Pode ser que tenha trocado também o gosto por roupas porque, naquele início de noite, numa sexta que prometia frio mas entregou certo calor, o figurino diferente provocava certa estranheza. Era o lançamento do single “Litoral”, na estação General Osório do metrô, Zona Sul do Rio, e o artista anunciou o início de uma série de apresentações pela cidade. “Litoral” é uma faixa solta, só mesmo um single, mas o artista está na iminência de colocar pra fora um álbum que já há três longos anos lhe dá trabalho. Em clima de celebração, com uma guitarra e um microfone, André Paixão contou com um público formado por passantes e por ilustres amigos, como os músicos Maurício Garcia e Pedro Serra, e a jornalista Catharina Rocha.

Era mesmo verdadeira, a história de turnê. Enquanto esta crônica ganhava vida, dias depois do lançamento, chegava nova mensagem do artista para anunciar uma segunda apresentação nos subterrâneos do Rio. Dia 30, às 19h, na Estação Carioca, Acesso B (Avenida Chile).

Em Ipanema, o show começou com “Só verão”, seguindo o setlist (que foi parar na coleção de dona Cath Rocha). Começou bem. Na verdade, a descontração parecia já estar garantida com o “Segue o líder!” que Paixão, botafoguense de carteirinha e tatuagem, soltou mesmo antes dos primeiros acordes. Vieram “Desencontro marcado” e “Maduro”. A primeira, uma inédita feita em parceria com Bernardo Vilhena. Mas foi em “Um sonho de transatlântico” que mais sorrisos foram vistos. Dentes de todos os tipos apareceram/brilharam, entre as cabeças que emergiam das entranhas da General Osório. Se teve um trem que chegou em boa hora, foi aquele lá.

O velho hit “O bom veneno” deu as caras, anunciado por uma introdução noise-barulhenta. Quase como que um rastro mais nervoso-no-wave em meio a toda aquela paixão. Se houvesse também alguma pequena multidão desembarcando, ali,  naquele instante, teria sido ótimo. Mas tem trem que é daquele jeito: não vem na hora certa. “O bom veneno deve ser assim/ E eu te peço / Sirva uma dose desses pra mim”, diz um trechinho. De um passado menos distante, ressurgiu “Já desmanchei minha relação”, que também caiu muito bem. “Curtindo a solidão… Assoviando essa canção”, lembra? “E é por essas e outras que eu não tenho mais saco pra te servir, meu bem…”, lembra? Os tempos são outros. É tudo líquido, dizem. Mas “Já desmanchei minha relação” tem um potencial radiofônico para todas as épocas.

“Saturation” era a última da lista. Mas houve tempo para mais pérolas. A noite terminou com um repeteco de “Maduro”, que — esta, sim — também fará parte do próximo álbum. “A vida é assim/ Veja as folhas no jardim (…) Todos são bem parecidos/ Quando sentem que o pior está por vir…”

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@monteiro4852 #159

Você passa sempre por aqui, né?

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@monteiro4852 #158

Você não parece mais a mesma pessoa de antes.

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Codinome Dondoca

Se você é duma geração que teve a sorte de assistir ao “Agente 86”, deve lembrar de quando no seriado Maxwell Smart, aquele do sapatofone, recomendava ao Chefe o uso do Cone do Silêncio. Era um dos melhores momentos dos dois. O ator Don Adams nasceu para aquele papel, o de espião do Controle. O nome da agência deles era Controle. O Chefe, vivido por Edward Platt, ficava doido, quando Max sugeria o Cone para que tratassem de algum assunto sério. Era o protocolo, mas o Chefe sabia que o dispositivo não funcionava bem. Eles gritavam, dentro daquele troço, e não se entendiam. Era como se o Cone do Silêncio fizesse justamente o contrário do que deveria: em vez de proteger uma conversa, fazia com que ela fosse revelada ao mundo. Mais ou menos como um aparelho de celular pode fazer, hoje em dia.

Pode, sim. Olha só. A moça começou falando tranquilamente, mas parecia querer manter livres as mãos. Para poder beber sua água mineral gasosa cara, brincar com o cachorro que a acompanhava, mexer toda hora no cabelo na tentativa de impedir a ação do vento que teimava em deixá-la despenteada… Sabe-se lá. Ela então fez com que o aparelho funcionasse no modo viva-voz. Isso, depois de aparentemente encontrar já, antes, certa dificuldade para ouvir e ser ouvida pela pessoa que estava do outro lado da linha. Antes do modo viva-voz, ela tentou o esquema de encostar/grudar no ouvido a borda menor do retangulozinho mágico. Como se fosse inserir o aparelho na cabeça, através da orelha. Não rolou.

Era cedo, ainda, mas já se podia ver na rua outras pessoas, também com seus cachorros e garrafinhas de água, além, claro, de seus próprios e maravilhosos retangulozinhos mágicos. Se havia ali algum sortudo da Era Maxwell Smart, certamente lembrou do Cone do Silêncio. Como que para manter o clima de agência de espionagem, nasceu naquele momento um codinome: Dondoca. Melhor: Dondoca Smart.

A Dondoca Smart falava quase aos berros, mas mantendo o que se podia chamar de “elegância”. O vento e a garrafinha verde de vidro contribuíam. A missão revelada por ela era ajudar a organizar a festa de aniversário da avó. Soubemos logo em seguida que a coisa toda acontecerá em Brasília, para onde irão primos, primas, tios. Não se falou em cunhados ou cunhadas. Vai ser em outubro. E “vai ter até ministro”. Se alguém da Caos — a agência rival/inimiga do Controle — estivesse ali, teria pescado informações preciosas.

Outra grande questão que se apresentou foi sobre a hospedagem daquela parentada toda. Foi nesse momento que a Dondoca Smart entregou um ponto fraco. Preocupava-se com o conforto das pessoas mais velhas. Pelo menos de uma. Isso ficou claro porque, ao falar do assunto, debruçada sobre o retangulozinho mágico que repousava naquela mesa de concreto, numa praça pública, insistiu com firmeza: “Tem que ver onde a tia Gertrudes vai dormir. Tem que ver onde a tia Gertrudes vai dormir. Tem que ver onde a tia Gertrudes vai dormir.” Alvo fácil para o Caos, quer dizer, a Caos. Uma Dondoca Smart não pode dar aquele “mole” todo.

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@monteiro4852 #157

Sem conversinha. Não adianta querer me obrigar a fazer isso.