Alberto Monteiro na área.
Categoria: Arte
Alberto Monteiro é um dos grandes zineiros da geração que ficou conhecida como “Maudita”, com “u” mesmo. É do mesmo naipe de bambas como Fabio Zimbres, MZK, Lauro Roberto, Jaca. Produz loucamente, ainda mais agora, que largou o emprego que tinha para dedicar-se ao que mais gosta de fazer: desenhar e pintar. Já foi representado por uma grande galeria de SP. Já foi fã número um de Sonic Youth. Já foi viciado num rodízio de massas que funcionava no centro do Rio. Vive meio “isolado” (aquele papo de artista, né?), hoje em dia, em Santa Cruz da Serra, de onde sai com a camisa do Botafogo para um ou outro churrasco na casa de amigos. Já topou ser entrevistado, aqui para esta página, mas mesmo antes de isso acontecer começa a atuar como colaborador regular. Vai ser um desenho por semana, provavelmente recheado por sua muito particular maneira de escrever. Isso, até que decida voltar a andar de bicicleta, percorrendo longas distâncias — outra de suas paixões. A coluna vai ser batizada de “@monteiro4852”, sua conta de Instagram.
Anderson Badaró e Junior Abreu são velhos conhecidos. Já até fizeram live juntos no Instagram, veja só. Mas, melhor do que isso, são dois caras que insistem em compor. Cada um separadamente soltou uma música que estava lá engavetada. E elas — coincidentemente — ganharam o mundo com um ar de atualidade que chama a atenção da gente. Parecem ter a ver com a época que estamos vivendo: “Eu direi apenas coisas que você quiser ouvir”, do Verbase, e “Vai passar”, da Ursa Maior. Soam “atuais”, sim, ou “bem contemporâneas” por causa de seus títulos, suas letras, suas densidades…
Mas não são de agora. “Eu direi apenas coisas que você quiser ouvir” é de 2002 e acabou não entrando em nenhum disco. Ganhou vida agora depois que Badaró montou um estúdio e conseguiu trabalhar melhor umas coisas que vinha matutando. A faixa deve entrar num disco que ele espera lançar até o fim do ano. “Vai passar” é um pouco mais nova, tem cinco anos. “Profetizei, sem querer, cara”, brinca Abreu.
Iggy Pop sempre foi meio cachorrão. Feroz. No sentido rock’n’roll. O que é um “bom” sentido, na medida em que, bem, rock é só um troço que se consome aí como também se faz com clássicos, axés, emepebês etc. E, talvez por ser cachorrão, era fácil lembrar logo da maravilhosa “I wanna be your dog”, quando se falava dele. E não é que, no projeto “Bedtime stories“, para o New Museum (NY), ele dá o pontapé inicial lendo um trecho em que só falta latir…!? Vai ser mais fácil a criançada ficar com o olho arregalado do que pegar no sono, depois de ouvi-lo.
Por trás de tudo está um cara chamado Maurizio Cattelan, que meses atrás foi aplaudido por colar uma banana numa parede usando fita adesiva. O New Museum fica em NY, pelo que diz o Google, e foi inaugurado em 1977, na Bowery — mesma via em que ficava o CBGB. A gravação faz parte de um desses projetos que oferecem uma coisinha digital a mais para a humanidade suportar o período de isolamento pelo qual está passando. Um bando de outros artistas vai participar do projeto, incluindo David Byrne (sabe?), Jeff Koons (o do coelho de 90 milhões de dólares) e Raymond Pettibon (aquele que fez a logo do Black Flag).
Zé Sem Nome fez um favorzão a todos nós, nestes tempos de pandemia: lançou no sapatinho um segundo álbum. Parece estar — o que é um direito dele — tirando aquela onda de “Ah, tinha material sobrando…” Agoniado, bem-humorado, poesia-tapa-na-cara, porradeiro… Assim é “Falando com as bases”, que vem à luz podendo ser considerado tanto sequência quanto tipo um complemento do anterior — o sensacional “Parece RAP”, de meados do ano passado. “Fala javanês” foi eleita pelo ex-baixista do Zumbi do Mato, o agora Zé Sem Nome, como o primeiro single. Está lá no Spotify, para quem quiser ficar de boca aberta.
Na pasta das “crônicas”, além da primeira música de trabalho, você pode colocar “Rei Momo” e “Protesto R.J.”. Nesta, tem uma frase lá que pra muita gente define como poucas a cidade outrora maravilhosa: “Essa merda é o Rio de Janeiro.” A despeito do exagero, porque é também uma cidade onde surgem artistas inquietos e cheios de verdades pra jogar nas nossas caras, só esta sentença já dá vida à música. Mas o negócio vai muito além. “Rei Momo” é bem-humorada: você pode rir por exemplo quando ele anuncia um solo de guitarra.
Por falar em verdades, ente encarar “Amor perfeito”, uma bela prova da firmeza do discurso do cara. Nesta, o ouvinte tem a chance de imaginar ZSN como um bamba daquele esquema que há algums anos estava tão na moda, o stand-up comedy. Neste segundo disco, é um dos melhores momentos dele como intérprete, com plins e plons que os teóricos aí da vida podem até chamar de referência oitentista.
Falar de amor amor mesmo é coisa que ele faz mais em “Swing loco”, que com um título assim pode de cara ser julgada como uma… sacanagem! É isso sim um mergulho na poesia. Pode rir, pode desconfiar, leitor(a), mas tem isso. Versos como “Sexo sem camisinha / Brincadeira de canibais / Swing loco…” fazem a gente pensar que Zé está in love. Apaixonado pelo caos (?). Talvez. “Swing loco”, “Ilhas” e “Sopa de piranha” são parcerias com Renato Pittas, que já deixara sua assinatura na melhor faixa do lançamento anterior (“Lost”). A capa desta vez traz a marca de Márcio Jr., integrante da banda Mechanics e manda-prender-e-manda-soltar lá em Goiânia.
“O povo tá doente” não faz de ZSN uma Mãe Dinah de última hora. Com sua melodia, ela se separa um pouco das outras. O que também acontece com “Ilhas”, que sugere uma digestão mais fácil. “Ilhas podem ser oásis no meio do deserto disfarçadas de miragem” é um bom refrão. Antigos fãs de Los Hermanos ou até mesmo gente mais cascuda, como admiradores de Legião Urbana, deviam dar uma chance pro Zé. Não se decepcionariam.
“Rosto de rico”, também sombria, carrega uma roupagem bluesy. Nosso homem-caos-da-vez até brinca com isso, cantando “Segura aí… Virou um blues…” Mas não fique achando que ele explica todas as “piadas”. E tampouco que tudo é gracinha. Se tem uma sensação que fica depois da audição é de que há muita, muita coisa escondida naquela avalanche de palavras. Não basta uma audição. Com sotaque bem carioca, fica ótimo ouvir o cara provocar: “Eu tenho rosto de rico / A sorte que eu tive meu deus fiz miséria / Vamos nós sorrindo, dando beijinho e sem destino.” O amor ressurge aí como assunto e, além disso, parece haver uma ligação com “Sopa de piranha”, que aventureiros irresponsáveis poderão considerar uma provocação às feministas de hoje em dia. O que seria um perigo.