O que é que você esperava? Depois desse tempo todo, o que é que você esperava?
Categoria: XXX
Dias em que você em algum momento acha que não deveria ter saído de casa. Dias em que uma certa timidez toma conta de tudo. Aqueles dias. Dias em que o pessoal do laboratório atrasa três horas, ferra com o intervalo do almoço, faz o jejum transformar-se num vazio-de-ódio. Dias em que quase se dá graças à Deusa pelo cabelo comprido, quase um superpoder, quase um manto-da-invisibilidade. “Tipo hoje”, x modelx parecia dizer, usando aqueles poucos centímetros de franja como uma lona de caminhão. Vale tudo, em dias assim. Tudo para se esconder.
Nenhum intervalo entre as poses. Pressa. A vida está passando. O alarme do celular mais do que funcionar bem parece estar acelerado. O rosto não pode ficar sempre virado para a parede dos fundos, então, aquele imenso vazio para onde elx olha parece tão importante e tão cumpridor do papel de acolhedor de desespero que até dá vontade de a gente que observa virar pra tentar entender o que há por lá.
Encarar de frente uma plateia que empunha objetos como papéis e lápiz e bastões de carvão e sprays de laquê que não serão usados na cabeça pode ser uma tarefa complicada num dia complicado. É quando plateia rima bem com alcateia. Um quase-exército de lobos-rabiscadores, com seus olhares sedentos/atentos mais grafites de diferentes calibres. Um “perigo”, uma “ameaça” iminente. Algo que se apresenta como um imenso centro de alvo para tiro, de onde — ainda mais num dia assim — não se pode fugir.
Dia que ninguém merece. Ou dia DE ninguém merece? Dia de cansaços que retornam, de dores de cabeça que transbordam. Dias de males-me-querem. De tambores frouxos, com os quais nenhum maestro pode conduzir uma marcha. Dia de marcha à ré. Um desenho sendo feito ao contrário: sendo desfeito, portanto. Um risco que apaga, em vez de registrar. Que dia.
@monteiro4852 #100
Rolou. Vamos beber uma cerveja?!?
@monteiro4852 #98
Como é mesmo aquela história de por que nós caímos?
@monteiro4852 #93
Sim, muito calor.
@monteiro4852 #91
Calor, né?
Todo esse papo de ressignificação e, na banca, para mais uma confirmação, jornais para… para quem quer manter a rua limpa. Pro classe-mediano-responsa-e-revolucionário, pra esse cara fazer bonito e tirar dali o cocô lindamente liberado pelo cachorrinho. Assusta um pouco que haja gente que largue porcaria no caminho dos outros? Sim, ainda. Ainda há. Mas beliscão maior nesta era ressignificativa é ver um pacote de jornais, embalados em saco plástico, para serem usados meio que como papel higiênico. Sempre se falou de como o noticiário impresso naquelas folhas enormes quase que invariavelmente será/seria usado, no dia seguinte, numa feira, como embrulho de peixe, mas… Abrigar cocô de cachorro é o fundo do poço.
O bêbado aqui da calçada também estava querendo dar uma nova perspectiva para sua ressaca. Chamou a desagradabilíssima de “momento do beijinho”. Ele tratou de se explicar, vendo-se diante de caras/máscaras muito inquisidoras: “É que a receita pra curar esse bagulho, no dia seguinte, é fazer um suco com frutas vermelhas e batizar co’um beijinho de vodca, antes de bater…” A pergunta seguinte poderia ser a respeito das frutas vermelhas ele gostava de usar. Mas quiseram saber a marca do destilado que ele adicionava, como se a garantia do milagre estivesse ali.
Lugar bom pra ressignificação é mesmo balcão de bar. Ou mesa de bar. Ou a calçada em frente a um bar. Neste inferno que é o Rio de Janeiro, nem sobre a temperatura da cerveja o pessoal se entende. Já sabemos, porque estavam dizendo outro dia, aqui em frente, que usar a expressão “canela de pedreiro” nos dias de hoje não pega bem. Por enquanto, você ainda pode dizer que a garrafa está “mofada”. Por enquanto. Até aí, ok. Mas voltando ao inferno que é o Rio, no que diz respeito ao calor, uma regra básica deveria ser ver as garrafas sendo servidas no modo “estupidamente gelada”. Aí, se o cara está bebendo uma artesanal ou algo assim, se para ele é importante saborear a bebida numa temperatura mais “alta”, beleza: espera um pouco e esta temperatura será alcançada. A grande maioria das pessoas quer a “mofada”. E não vão ressignificar esta preferência. Não aqui no Inferno.
E aí surge outro problema: acreditam que o “mofo” vai durar para sempre. Acreditam no caô da “camisinha”. É, “camisinha”, aquela capinha para proteger a garrafa e o precioso líquido, com a promessa de que vai manter a temperatura. Nenhuma temperatura aqui no Inferno, que parece o Rio, pode ser mantida razoavelmente baixa/refrescante por mais de alguns segundos. Aí, o guerreiro da luz ressignificante pede uma gelada e, depois do primeiro copo, vai e reclama da temperatura da ampola. Na era da ressignificação, pilotar um balcão requer mais do que sintonia. Precisa mesmo é da boa e velha paciência.
Também se fala muito dos novos contratos entre namorades. Entre os mais cascudes, há quem aponte aí não uma simples ressignificação, mas, sim, uma ressignifornicação. “Eu quero ser livre”, diz um. “Marquei de ficar contigo mas vou aproveitar o carnaval para viajar pra um lugar lindo que descobri com amigues…”, desculpa-se outrem. Aí, é quase uma dupla mudança de significado, porque este ano, oficialmente, o carnaval não ia existir mas no fim das contas será dobrado: então, tudo o que acontecer neste período, ao pé da letra oficial, poderá ser tomado como pura ilusão. Para o bem ou para o mal, dependendo do significado que apesar de não valer para nada pode continuar marcando a alma de muita gente por aí.
@monteiro4852 #90
Você vai mesmo abandonar as máscaras?
@monteiro4852 #89
Você pinta, é?
@monteiro4852 #88
Embalou direitinho?