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Saúde! 2!

Refúgio ou fuga? Poderia ser um danado de um deixa-a-vida-me-levar. Samba é que fala muito disso, né? Pode falar de samba sem provocar reações furiosas dos entendedores do assunto? Não há ainda nada no caderninho sobre isso. Assim, sem muito esforço e sem Google, dava para arriscar dizendo que há muito samba que fala de mar, de deixar-se ser levado pela(s ondas da) vida.  Mas, voltando à Lois Lane, sem querer parecer super-homem (o que um homem de aço estaria fazendo numa casa de saúde da Tijuca, né?)… Deixar a vida levar a gente, se tiver essa moça na história, é deixar as coisas muito mais por conta dela do que da vida.

Eis que surge a ultra-sonografia mais rápida de todos os tempos, para reorientar os pensamentos e criar novos parâmetros para todas as coisas. Deve ter medalha pra isso, naquele lugar, e o playboy-doutor com camisa Ralph Lauren e luvas azuis deve ser um dos campeões. Prometeram resultado para dali a 15 minutos. O pessoal do sangue e da urina deve ter outra liga e o próprio troféu, porque não é uma disputa justa. Quer dizer, o playboy pode ser muito bom naquilo ali, né? De que time deve fazer parte a médica da calça cor-de-rosa?

Madonna. Madonna? O que ela fazia, ali, na Tijuca? Era hora das bobagens mais sérias. “Everybody, c’mon, dance and sing… Everybody, get up and do your thing…” É isso. Hospital é um lugar em que fica mais fácil a gente pensar na vida, em como pode estar tudo por um segundo. Mas aí já vira Gilberto Gil, vamos manter o foco. Foco. Como o cara da Ralph Lauren. “Everybody” teve sua função nos anos 80, deixou a material girl mais rica e, agora, num prédio com corredores bem brancos, na ZN do RJ, faz alguém pensar na vida e em fazer o que realmente curte. Isso só deve durar até o fim da tarde, volta na próxima cólica renal e, aí, segue se repetindo até que um dia não vai dar tempo de se perguntar nada ou lembrar de música nenhuma.

Parece que já não há médica com calça cor-de-rosa nesse mundo de meu Deus então vamos agradecer ao Todo Poderoso pelo surgimento de uma outra personagem interessante, desta vez com moletom cinza e crachá azul. Pode trocar de personagem, nos finalmentes duma crônica? Pro garoto que estava com a mãe, bem ali do lado, esta troca não faz sentido. Nenhuma troca deve fazer sentido para ele, na real. Para aquela criança, tudo que importa é o tubo de batatas fritas com o qual ele foi presenteado. Ficou uma piscina de farelos, em volta do lugar em que ele estava sentado. Um verdadeiro rastro de felicidade, sem que aparentemente nenhum resultado satisfatório de exame tivesse sido necessário.

Já tinha ouvido falar em “rastro de felicidade”? Provavelmente, não, né? O noticiário, quando fala em “rastro” geralmente emenda com “destruição” ou “violência”. Pergunte ao pessoal de Bonsucesso. O jovem do tubo de batatas deixou pra trás um rastro de prazer e felicidade. Precisou vir alguém da limpeza para consertar aquilo. 13h45m. O sinal de fome sentido pelo escriba explica um pouco a voracidade do garoto diante das fritas. Fome. O menino estava acompanhado, provavelmente, pela mãe.

E eis que, na pulseira de identificação do maníaco do caderninho,  o nome de uma outra mãe salta. Fazem isso em hospitais para que, por exemplo,

xarás não corram o risco de receberem medicamentos trocados. O filho de Fulana recebe o comprimidinho X. O de Beltrana, Y. Mas o nome e a lembrança de uma genitora pode trazer de volta um outro rastro de felicidade: como o que fica quando uma criança, depois da consulta, ganha sempre uma fatia de pizza. Dessas maravilhosas pizzas de padaria. Ainda existe isso? Um rastro de felicidade que faxina nenhuma tira da memória.

A felicidade pode abrir as portas das descobertas transformadoras. Lá pelas tantas, fica claro que a médica de calça cor-de-rosa trabalha no consultório 5. O pessoal da limpeza parece não ligar muito se a gente levanta ou não os pés para facilitar o acesso deles , com vassouras ou esfregões, para limpar embaixo das cadeiras. Se você não quer que lhe injetem “contraste” nas veias, para certo tipo de exame, isso deve ser marcado num formulário que te dão, antes do procedimento. Frio e fome não são coisas boas de se sentir, ainda mais ao mesmo tempo.

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