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A máscara nossa de cada dia

Havia antes o desejo de que caíssem as máscaras. Agora, há a necessidade de que elas sejam usadas. E isso está sendo bom, porque além de proteger ela pode revelar. Claro. Novos tempos. As máscaras dizem muito sobre o sujeito. O cara ali nas Laranjeiras com aquele lenço (tomara que tenha um filtro de café por dentro da dobra) com a estampa da caveira-símbolo dos Misfits, por exemplo… E o outro, com uma amarelinha toda arrematada com detalhes azuis, no que parece ser uma alusão clara à camisa da seleção? Sim, tem máscara pra roqueiro, coxinha, hipster, esquerdopata; pra todos os gostos. Tem máscara pra proteger, pra se liberar, pra todos os propósitos.

Não é de hoje que a máscara tem espaço nas nossas fantasias. Quatro, cinco décadas atrás, no subúrbio carioca, mães mais preocupadas avisavam que não era bom ir na direção duma muvuca encapuzada. Se você visse alguém de Clóvis (ou Bate-Bola), então, nem precisava ser uma aglomeração; era bom passar longe. No carnaval, diziam, as máscaras protegiam e emprestavam salvo-conduto a criminosos, ou no mínimo baderneiros: gente que queria aproveitar o período de folia para fazer o mal, para pôr em prática algum plano de vingança.  Antes da internet, quem sempre tinha razão era a mãe.

Nos cultos afro-brasileiros, que no mínimo pela batucada trazem alguma relação com o Reinado de Momo, a máscara também merece um “capítulo” especial. Diz  que, se o macumbeiro está de máscara, será abandonado por seus protetores. Isso, os Exus — N.R.: Laroyê! — não garantem a segurança de quem esconde o rosto. Parece que há uma maneira de driblar isso, mas para quem quer a companhia destas forças protetoras a “regra” básica é não cobrir a cara.

Noutros casos, o apetrecho parece dar mais poder ao usuário. Ou à usuária. Veja a Mulher-Gato. Que chicote, o daquela moça, hein!? Então, de máscara (e, claro, de macacãozinho de couro ou vinil bem colado ao corpo, botas e tal), ela pode te pedir o que for que você, mermão, vai fazer. Ai de você se não fizer… Slapt!

Máscara virou ícone de um momento que, muita gente aposta, será de “transformação” na humanidade. Tempos atrás, podíamos achar exótico quando um japonês usava isso, por causa do pólen que, em alguns deles, provocava alergia. Era assim que conseguiam percorrer com tranquilidade vizinhanças repletas de árvores floridas.  Parecia coisa de país rico, como quase tudo que aparecia em revistas de moda.

Por falar em moda: algum tempo atrás, você parava e folheava numa banca de Ipanema uma revista inglesa sobre estilo pra ver o que copiar e, ali, podia encontrar o registro de gente “comum” usando máscara como se fosse acessório. Coisa de inglês. Hoje, quando estamos todos às voltas com a pandemia, ir ao mercado, OK, mas só se for com a devida proteção.  Pra desgosto dos “descolados”, não é só mais uma questão de sintonia com a tiração de onda dos primos ricos. Tem também a história de as máscaras darem aos homens uma chance de aproximação com o universo feminino. Por causa do que elas, ou pelo menos muitas delas, sempre protagonizaram com suas calcinhas: aquele ritual de lavar a peça durante o banho, pra deixar depois pendurada como um estandarte em algum lugar do banheiro. Homens, ou pelo menos muitos deles, não tinham essa mania com a cueca. Era colocar na máquina de lavar e pronto. Agora, com as máscaras, a gente chega da rua e, pra ser civilizado/essencialmente-não-minion, pega aquela coisinha delicada, passa um sabãozinho, com cuidado, pro troço não desmontar todo nem ficar desmilinguido, e lava com calma. Muita calma, porque é uma peça importante…

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Arquivo Perigoso Pro Relacionamento

Quando a gente saía de casa para trabalhar, em vez de se trancar em casa, foi muito importante tomar conhecimento e levar em conta o significado da sigla NSFW. Not Safe For Work. Quer dizer: não abra o troço ou, se fizer isso, vá com cuidado porque pode ser barulhento e/ou pornográfico e, mesmo se não for nenhuma das duas coisas, talvez não pegue bem num ambiente profissional, ainda mais se você ganha a vida num pico em que é preciso colocar a camisa pra dentro da calça. Enquanto seguimos aguardando via WApp a volta dos arquivos pornográficos, devemos agora ficar ligadíssimos a qualquer coisa que venha com NSFQ.

No início desta história de quarentena, houve quem apostasse que daqui a uns dez ou onze meses teríamos uma explosão de nascimentos de bebês. Dá pra imaginar o novo rótulo, nas revistas de comportamento: depois dos Baby Boomers, de décadas atrás, os Quarantine Boomers. Imagine hospitais lotados de grávidas, com os médicos que restassem pós-pandemia suando o jaleco nos partos pros quais seriam convocados. Mas… Uma semana depois do início da reclusão, já dá pra perceber que não será bem assim. De repente, vai ser bom é pros advogados…

Seja como for, é possível que NSFQ — Not Safe For Quarantine — seja a sigla-salvação pras nossas peles (pra não dizer “relacionamentos” ou “vidas”). Se no trabalho o caldo podia engrossar/entornar por conta de um arquivo aberto na hora errada… imagina isso em casa, onde talvez não haja disponíveis tantos terminais de computador, já que uns equipamentos com certeza serão tomados pela(s) criança(s).

Visualize uma niteroiense virginiana ainda com menos de 30 anos indo de Hattori Hanzo em punho na direção do otário, digo, marido que deixou escapar um gemido do Mac. Ou o banguense que chama a esposa de “patroa”, já cabreiro porque “ela se arruma demais” para participar das vídeo-conferências, passar sem querer querendo no instante em que a coitada está rindo de uma piada que envolve chifre. Sim, chifre. Em Bangu, ao contrário do Planalto, tal adereço não é coisa bem vista/aceita.

Além da vulnerabilidade provocada pelos arquivos, em casa, gente, não tem o pessoal do help-desk. Muito cuidado com o lugar em que você passa o mouse. Você não achou esse mouse no lixo! Se for clicar, mais cuidado ainda porque daqui a uns meses pode ter algo estranho na sua máquina ou um bom dinheiro faltando na sua conta. Qualquer uma das duas possibilidades será descoberta pela pessoa com quem você morava. Morava, no passado mesmo, porque a casa periga cair logo depois deste episódio. Ainda dá para lembrar que, uma semana atrás, houve quem apostasse neste período como algo positivo. Enxergaram uma chance para os seres humanos redescobrirem os belos laços que (n)os unem. Hoje, quando ficamos desesperados e com vontade de correr pra longe de quem espirra, os arquivos de computador aparecem em segundo lugar no ranking de paranoias em potencial. São capazes de entrar na sua casa sem você perceber. E, quando se der conta, pode ser já tarde demais: a M está feita.

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Um, dois, três… Testante, digo, testando

Hoje: estresse. Mensagem pautada por uma certa grosseria para o pessoal da hospedagem. Duas semanas e o troço não funciona direito.